sábado, 31 de outubro de 2015

A "Sabe-Tudo" Fábula com atividades.

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Sabe-tudo era o apelido pelo qual todos os habitantes do bosque conheciam a tartaruga. Quem tivesse algum problema a resolver ou dúvida para esclarecer era só ir à casinha da Sabe-tudo, para ver seu caso resolvido.
Para dizer a verdade, a tartaruga passava as suas horas livres consultando livros e enciclopédias. Interessava-se por todos os temas existentes e por existir. Que curiosidade insaciável tinha ela!
- Desculpe-me, tartaruga, mas eu estava interessada em conhecer a ilha de Ceilão e... Diz timidamente a raposa.
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- ... E não consegue encontrar a resposta, não é verdade? Bem, não se preocupe que já lhe explico, querida amiga, responde a tartaruga, com sua tradicional amabilidade. Vejamos. A ilha de Ceilão está situada no Oceano Índico, ao sul da Península Indostânica ou da atual Índia. Esclarecida a dúvida?
- Oh, obrigada, obrigada, Sabe... Quer dizer, amiga tartaruga! Responde embaraçada a raposa.
A Sabe-tudo sorri compreensiva. É claro que conhece a alcunha que os seus vizinhos lhe puseram. Isso não a incomoda, pois adivinha o sentimento de admiração que se esconde por trás dela.
Os anos passam e os conhecimentos da tartaruga tornam-se imensos, a tal ponto que ela começa a tornar-se exigente e crítica com os seus vizinhos. Com mania de perfeição, torna insuportável a vida dos outros. De uma amiga brilhante e admirada por todos converte-se em uma criatura amarga e insatisfeita que, além disso, recebe a hostilidade de quem a rodeia.


Moral da história:


A modéstia é uma virtude muito necessária, sobretudo para aqueles superdotados, que se destacam pelo seu próprio brilho. Sem a modéstia, o conhecimento é inútil, pois não será repartido com os outros que o têm em menor quantidade.

Para colorir:

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Atividade:

Tartaruga com garrafa pet passo a passo clique: AQUI

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O pescador e o gênio. - As mil e uma noites.

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Havia um pescador muito velho e muito pobre que mal conseguia ganhar dinheiro para não deixar morrer de fome sua mulher e seus três filhos. Todos os dias, de madrugada, ele saía para pescar.
Lançava sua rede ao mar quatro vezes.
Um dia, numa noite de lua, foi até a praia.
Tirou a roupa, entrou na água e lançou a rede.
Quando a puxou, sentiu resistência. Pensou:
“– Desta vez, fiz uma boa pescaria!” – e ficou muito contente. Porém, quando foi ver o que estava nas malhas da rede, notou que não passava de uma carcaça de burro, e passou da alegria à mais completa tristeza.
O pescador, então, costurou a rede, que tinha-se rasgado com a carcaça, e a lançou de novo às águas.
Ao puxá-la, sentiu grande resistência e concluiu:
“– Ah, desta vez minha rede está cheia de peixes!”.
Mas só encontrou nas malhas da rede um grande cesto cheio de areia e lama. Ficou desesperado e disse:
– Ó sorte! Deixe de estar com raiva de mim.
Não persiga um pobre coitado que está suplicando para que você o poupe! Saí de minha casa e só vim ganhar o meu sustento; você me anuncia a morte!
Não sei fazer outra coisa para sobreviver, mas, apesar de todos os meus esforços, não consigo nem mesmo satisfazer as necessidades mais básicas de minha família.
Pondo fim a suas queixas, o pescador jogou o cesto e, depois de ter lavado cuidadosamente a rede enlameada, lançou-a ao mar pela terceira vez. Mas só conseguiu tirar das águas do mar pedras e sujeira.
Quase enlouqueceu de tanto desespero. Entretanto, como o dia começava a nascer, não se esqueceu de sua prece, como bom muçulmano. Em seguida, suplicou:
– Meu Deus, bem sabeis que só lanço a rede quatro vezes por dia. Já a joguei três vezes, e nada consegui com o meu trabalho. Só me resta uma chance. Suplico: fazei o mar favorável a mim!
Terminada a prece, lançou a rede pela quarta vez. Quando achou que deveria haver peixe, puxou-a sem muito esforço. Não, não havia peixe, mas, em vez disso, um estranho vaso de cobre que, pelo peso, pareceu estar cheio. Estava fechado e lacrado com chumbo. “– Vou vendê-lo e, com o dinheiro, comprarei trigo”, pensou ele.
Depois de examinar o vaso cuidadosamente, o pescador sacudiu-o para ver se o que havia dentro dele fazia barulho. Não pôde ouvir coisa alguma.
Pensou que deveria estar cheio de algo muito precioso.
Para acabar com a dúvida, pegou sua faca e abriu-o com um pouco de esforço. Virou a boca do vaso para o chão, mas nada saiu, o que o deixou
muito espantado. Então, colocou o vaso na sua frente. Enquanto o observa, eis que sai do interior do vaso uma densa fumaça. 
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O pescador recua, assustado.
A fumaça se eleva até as nuvens e forma um nevoeiro intenso sobre o mar e a praia. Que era aquilo?
Quando a fumaça saiu totalmente do vaso, juntou-se e tornou-se um corpo só, do qual se formou um gênio duas vezes mais alto do que o mais alto de todos os gigantes. Vendo monstro tão monstruosamente grande, com cara de poucos amigos, o pescador quis fugir, mas, aterrorizado, nem conseguiu se mover! O gênio disse com uma horrível voz de trovão:
– Salomão, grande profeta de Deus, perdoai-me!
Nunca mais me oporei à vossa vontade e obedecerei a todas as vossas ordens.
Assim que ouviu as palavras do gênio, o pescador lhe disse:
– Ó espírito orgulhoso, que você está dizendo?
Faz séculos que Salomão, o profeta de Deus, está morto. Mas conte-me a sua história. Por que estava encerrado nesse vaso tão pequeno?
O gênio, então, lançando um olhar orgulhoso e cheio de ódio ao pescador, respondeu:
– Dirija a palavra a mim com mais respeito!
Você é bem atrevido em me chamar de espírito orgulhoso!
– Pois bem, falarei com mais respeito se chamar você de ave da felicidade? – perguntou o pescador.
– Eu estou lhe dizendo: dirija-me a palavra com mais respeito antes que eu o mate!
– E por que você me mataria? – replicou o pescador. – Acabo de pôr você em liberdade, já esqueceu?
– Não, não esqueci. Mas isso não me impedirá de matá-lo; e só concedo a você uma graça – disse o gênio.
– E qual é essa graça? – perguntou o pescador.
– Você pode escolher a maneira pela qual quer que eu o mate.
– Mas que mal eu lhe fiz? É essa a recompensa que eu recebo pelo bem que fiz a você?
– Não posso tratá-lo de outra maneira – respondeu o gênio. E passou a contar sua história:
“Sou um dos espíritos rebeldes que se revoltaram contra a vontade de Deus. Todos os outros gênios reconheceram o poder do grande Salomão e a ele se submeteram. Eu e mais um outro fomos os únicos a não querer cometer essa baixeza. Para se vingar, Salomão encarregou Assaf, o filho de seu primeiro-ministro, de ir buscar-me e levar-me a sua presença. Ordenou, então, que eu abandonasse meu modo de vida, reconhecesse seu poder e me submetesse às suas ordens. Recusei e preferi expor-me a seu ódio a prestar-lhe juramento de fidelidade e submissão. Querendo me castigar, encerrou-me neste vaso de cobre. Para que eu não pudesse escapar, na tampa de chumbo do vaso pôs seu sinete, onde está escrito o nome de Deus. Depois, mandou que um dos gênios que lhe obedeciam atirassem o vaso ao mar, o que fizeram. No primeiro século de meu aprisionamento, jurei que, se alguém me livrasse antes de se passarem cem anos, eu o faria milionário. Mas os cem anos se passaram e ninguém
apareceu para me prestar tão bom serviço. No segundo século, jurei revelar todos os tesouros da terra para quem me libertasse, mas ainda dessa vez não tive sorte. No terceiro, prometi fazer do meu libertador um poderoso soberano, estar sempre ao seu lado em espírito e conceder-lhe três desejos todo dia, qualquer desejo! Mas também esse século se foi, assim como os outros, e eu continuei na mesma situação.
Finalmente, enraivecido por me ver preso por tão longo tempo, jurei que, se alguém me livrasse, eu o mataria sem dó nem piedade e não lhe concederia outra graça senão a de escolher o tipo de morte pela qual morreria. Assim, uma vez que você me libertou hoje, só lhe resta escolher a maneira pela qual quer que eu o mate!”
Aquelas palavras deixaram o pescador desesperado:
– Sou realmente desgraçado! Vim aqui prestar um grande serviço a um ingrato. Suplico-lhe: pense na injustiça que você está praticando e anule um juramento tão pouco sensato! Se você me perdoar, Deus o perdoará. Se me deixar viver, Ele o protegerá em todas as situações críticas de sua vida.
– Não, não: sua morte é certa! – respondeu o gênio. – Falta só você escolher a maneira como deseja morrer.
– Ai de mim! Tenha piedade! Lembre-se do que fiz por você!
– Já lhe disse: é justamente por essa razão que eu sou obrigado a matá-lo.
– É estranho, não entendo por que você quer pagar o bem com o mal – prosseguiu o pescador, provocando a réplica do gênio:
– Não vamos perder mais tempo! Suas palavras não me farão mudar de ideia. Vamos logo: diga-me como deseja morrer.
A necessidade obriga o homem a recorrer à esperteza; assim fez o pescador. Disse ele ao gênio:
– Já que não poderei mesmo evitar a morte, submeto-me à vontade de Deus. Mas antes de escolher como desejo morrer, suplico-lhe, pelo nome de Deus gravado no sinete do profeta Salomão, filho de Davi, responda à pergunta que desejo lhe fazer.
Quando o gênio viu que aquele homem lhe fazia uma súplica que o obrigava a responder de forma favorável, estremeceu e disse:
– Pergunte-me o que quiser, mas se apresse!
Eu responderei dizendo a verdade.
– Eu queria saber se você estava realmente preso nesse vaso...
Você juraria pelo nome de Deus?
– Sim, – respondeu o gênio – juro pelo grande nome que está gravado no lacre deste vaso.
– Para ser franco, não posso acreditar no que você está dizendo. Nesse vaso não caberia nem mesmo um pé seu, como é possível que o corpo
inteiro estivesse preso aí dentro?
– Mas eu juro que é verdade – respondeu o gênio. Você não acredita, mesmo depois de eu ter jurado?
– Não mesmo! Conte outra... É impossível acreditar, a menos que você me mostre como fez para ficar fechado aí dentro... Ver para crer...
Imediatamente o corpo do gênio dissolveu-se em fumaça, que se estendeu sobre o mar e a praia e, depois, juntando-se, começou a entrar de novo naquele vaso de cobre, lentamente, lentamente, até que nada ficou de fora. Logo saiu dali uma voz que disse:
– E então, pescador incrédulo, eis-me dentro do vaso. Acredita em mim agora?
O pescador, em vez de responder ao gênio, pegou correndo a tampa de chumbo e, fechando o vaso, disse:
– Gênio, peça-me perdão e escolha a maneira pela qual deseja morrer! Mas não... será melhor que eu o lance de novo ao mar, no mesmo lugar de onde o tirei. Depois, construirei uma casa nesta praia para nela morar. Aqui, avisarei os pescadores para que, se por acaso lançarem as redes nestas águas, não pesquem um gênio mau como você, que jurou matar seu libertador!
O gênio implorou e implorou que o pescador o libertasse. Dizia:
– Meu amigo pescador, não seja cruel! Não é justo vingar-se; pelo contrário, devemos pagar o mal com o bem. Liberte-me, e eu contarei a você uma história muito interessante.
– Qual?
– Se deseja ouvi-la, abra este vaso, por favor!
Como é que eu posso contar histórias fechado aqui, nesta prisão minúscula! Eu contarei quantas você quiser, depois que sair daqui...
– Não, não – respondeu o pescador. Não vou libertar você, não. Não adianta insistir. Vou jogar o vaso no fundo do mar.
– Mas antes, escute-me – gritou, apavorado, o gênio. Se você me soltar, juro que não lhe farei mal.
Melhor: ensinarei como você pode se tornar muito rico.
A esperança de sair da pobreza convenceu o pescador, que disse:
– Jure em nome de Deus que você fará o que acaba de prometer, e eu o soltarei.
O gênio jurou, e então o pescador abriu o vaso.
Primeiramente, saiu dele uma fumaça, que logo tomou a forma do gênio. Este, assim que pisou no chão, deu um pontapé no vaso, que foi se afundar nas águas do mar... O pescador ficou aterrorizado, mas o gênio deu uma gargalhada e o tranquilizou:
– Não tenha medo. Vou cumprir a minha palavra.
O gênio levou o pescador, ainda desconfiado, até um lago entre montanhas. Ali, insistiu para que ele lançasse a sua rede às águas transparentes. Qual não foi o espanto quando o pescador viu que com sua
rede pescara quatro peixes, um de cada cor: branco, vermelho, azul e amarelo. O gênio lhe disse:
– Leve esses peixes para o sultão: ele lhe dará por eles mais dinheiro do que você jamais teve na vida. Mas cuidado: venha pescar neste lago só uma vez por dia!

Depois de dizer essas palavras, o gênio bateu forte no chão com o pé. A terra se abriu, engoliu-o e, por fim, se fechou. O pescador fez exatamente o que o gênio lhe recomendara. O sultão, por aqueles peixes, recompensou-o de tal forma que ele nunca mais passou necessidade. Mas essa já é uma outra história...

Moral da história

o diálogo convence mais que a violência. A arte de saber se comunicar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

As mil e uma noites. Como tudo começou.

A história de Xerazad.

Ouve, muito tempo atrás, um rei poderosíssimo, da dinastia dos antigos reis persas, que dominaram até a Índia e a China. Seu povo o amava por sua sabedoria e prudência. Quando morreu, o poder passou às mãos do filho mais velho, Xariar. Homem justo,
Xariar fez questão de que seu irmão mais novo, Xazaman, também governasse ao seu lado. Deu-lhe, então, um de seus reinos, cuja capital era a cidade de Samarcanda. Passaram-se vinte anos de prosperidade, cada irmão vivendo em seu reino. Mas um dia Xariar, não suportando mais a saudade, decidiu rever Xazaman. Ordenou a seu grão-vizir que fosse até o irmão entregar-lhe os mais ricos presentes e um convite para vir visita lo.
– Seu desejo é uma ordem – disse o grão-vizir.
E partiu o mais rápido que pôde.
Ao saber que o grão-vizir se aproximava da cidade, Xazaman foi ao seu encontro e pediu notícias do irmão. O grão-vizir, então, transmitiu as palavras do soberano. Xazaman ficou comovido e disse:
– Meu irmão, o sultão, honra-me com esse convite.
Estou morto de vontade de o rever. Mas preciso de dez dias para
preparar a viagem e partir. Fiquem em meu reino e partiremos juntos. Não é preciso que vocês se desloquem até a cidade: armem aqui mesmo suas tendas.
Ordenarei que você e a sua comitiva sejam muito bem tratados!
O vizir aceitou a oferta. Xazaman se dirigiu a Samarcanda para cuidar dos preparativos da viagem.
Nomeou um conselho para cuidar de tudo durante a sua ausência; no comando, colocou um homem de sua total confiança. Dez dias depois, encaminhou-se até onde estavam as tendas. Então, desejando abraçar a esposa mais uma vez antes da partida, voltou sozinho ao palácio. Foi até os aposentos da rainha; ela, que não esperava revê-lo tão cedo, tinha introduzido no quarto um dos criados do marido. Qual não foi a emoção de Xazaman quando, chegando sem fazer ruído para fazer uma surpresa à esposa, por quem se julgava muito amado, avistou em seu quarto, à luz das tochas, um outro homem!
Furioso, Xazaman pegou seu sabre e, num segundo, deu aos dois o sono da morte. Em seguida, saiu da cidade e se dirigiu às tendas. Sem contar a ninguém o que tinha acontecido, deu ordem de partir imediatamente. Antes de raiar o dia, partiram todos.
É fácil imaginar a alegria de Xariar e Xazaman quando se reencontraram depois de tantos anos!
Abraçaram-se, trocaram mil manifestações de afeto e entraram na cidade, em meio aos gritos de alegria da multidão. O sultão levou seu irmão a um palácio que tinha comunicação com o seu e possuía um belíssimo jardim.
À noite, celebraram o reencontro com um jantar que durou até tarde. Depois, cada um se recolheu a seu quarto. Xazaman tinha passado momentos de alegria ao lado do irmão; mas, quando se viu sozinho em sua cama e pensou na infidelidade da esposa, ficou angustiado. Incapaz de dormir, levantou-se.
Tão triste estava que seu rosto denunciava seus sentimentos.
O irmão notou:
“– Que está acontecendo com ele? Estará com saudades de seu reino e de sua esposa?”
Na manhã seguinte, Xariar deu de presente ao irmão o que a Índia produz de mais valioso e de mais belo e fez o possível para diverti-lo. Mas Xazaman parecia ainda mais triste.
Um dia Xariar organizou uma caçada numa região distante do reino; a viagem até lá demorava cerca de dois dias. Xazaman não quis acompanhar o irmão; deu como pretexto sua saúde, que não estaria boa. O sultão aceitou a desculpa e partiu com toda a sua corte. Sozinho no palácio, Xazaman se recolheu a seu quarto e pôs-se a olhar o jardim através de uma janela. De repente, algo chamou sua atenção: uma porta secreta se abriu e por ela saíram
vinte mulheres; ao lado delas, estava a sultana.
Xazaman via a cena sem ser visto. De repente, as mulheres tiraram o véu, e ele pôde ver que, na verdade, eram dez homens com as mulheres! Então a sultana bateu palmas, chamando:
– Massud! Massud!
Àquele chamado, um homem desceu do alto de uma árvore e foi até a sultana.
Xazaman, então, percebeu que Xariar era tão infeliz quanto ele. Sem dúvida, aquela era a sorte de todos os maridos: serem traídos. “ – Já que é assim, por que me atormentar lembrando
o tempo todo uma infelicidade que é tão comum?” – disse ele a si mesmo. E daquele momento em diante esqueceu a tristeza.
Mandou que lhe preparassem o jantar e comeu com apetite.
Nos dias que se seguiram, estava alegre e bem-disposto.
Quando Xariar retornou da caça, espantou-se ao ver como
o estado de espírito do irmão havia mudado. E quis saber dele
o motivo. Xazaman respondeu:
– Você é meu sultão e meu senhor, mas, eu suplico, não exija
que eu responda a essa pergunta! Xariar insistiu e, então, Xazaman contou tudo sobre a infidelidade da rainha de Samarcanda, sua própria esposa.
Xariar aprovou o modo como o irmão tinha reagido:
– Meu irmão, que história mais terrível essa!
Você fez bem em castigar os traidores; foi uma ação justa. Agora compreendo a sua tristeza. Mas me conte o motivo de sua alegria.
Xazaman tentou inutilmente fazer com que o irmão desistisse de querer uma resposta àquela pergunta.
Xariar ficou ainda mais curioso, e ele teve de contar tudo o que acontecera durante a ausência do sultão. Terminou a história assim:
– Tendo visto tantas infâmias, cheguei à conclusão de que todas as mulheres se comportam assim. É tolice fazer com que a nossa serenidade dependa da fidelidade delas. Por isso, o melhor é consolar-se!
Xariar inicialmente se recusou a acreditar no o irmão lhe contara. Xazaman, então, propôs que os dois fingissem ir a uma caçada e se ausentassem do palácio. Na mesma noite da partida, retornariam aos aposentos de Xazaman. Assim se fez. Partiram e, ao cair da noite, o sultão mandou que seu vizir ficasse no comando dos homens e não permitisse que ninguém saísse do acampamento. Os irmãos partiram sozinhos a cavalo até o palácio e, pela janela do quarto de Xazaman, viram a porta secreta se abrir, os dez homens disfarçados aparecerem acompanhados das mulheres, e a sultana chamar por Massud.
Enfurecido, Xariar deu ordem ao grão-vizir de estrangular a esposa. Com suas próprias mãos, cortou a cabeça de todas as mulheres que acompanhavam a sultana. E, daquele dia em diante, decidiu que jamais voltaria a confiar nas mulheres. Ele se casaria com elas por uma noite e as faria estrangular no dia seguinte.
Pouco tempo depois, Xazaman regressou a seu reino.
Foi assim que o revoltado Xariar pôs em prática seu plano. Casava-se com uma das moças do reino, passava com ela uma noite, mas no dia seguinte mandava que fosse estrangulada. A cidade ficou abalada com aquela desumanidade. Pais e mães choravam por suas filhas. Todos temiam que elas se tornassem
vítimas do sultão.
O grão-vizir tinha duas filhas: a mais velha se chamava Xerazad e a mais nova, Dinarzad. Xerazad tinha grande coragem e inteligência; lia muito e tinha uma memória fabulosa. Era belíssima e muito virtuosa.
O grão-vizir a amava muito. Um dia Xerazad lhe disse:
– Meu querido pai, quero lhe pedir um favor.
Peço que não me recuse o que desejo! Quero dar um basta nas crueldades do sultão contra as famílias desta cidade.
– Sua intenção é muito justa, filha. Mas como pretende conseguir isso?
– Casando-me com o sultão.
O vizir horrorizou-se com aquelas palavras. Mas nada do que disse à filha pôde fazer com que Xerazad desistisse de seu plano. O pai, vencido pela insistência da moça, finalmente consentiu: angustiado, foi até o sultão e lhe disse que naquela noite lhe traria a filha. O sultão ficou muito espantado e ameaçou:
– Mas saiba que, de manhã, eu lhe darei ordens para estrangulá-la. E se você se recusar, mandarei matá-lo!
Quando o pai contou à filha que Xariar aceitara casar-se com ela, Xerazad ficou muito contente, como se tivesse recebido a melhor notícia do mundo.
Agradeceu a seu pai e o consolou, assegurando-lhe que ele não se arrependeria por tê-la dado em casamento ao sultão. Depois, chamou a irmã e lhe disse em segredo:
– Querida irmã, preciso de sua ajuda. Pedirei ao sultão que você durma no quarto nupcial. Amanhã, uma hora antes de raiar o dia, acorde-me e diga:
“Minha irmã, por favor, conte uma daquelas belas histórias que você conhece!”
De noite, Xerazad foi levada ao quarto nupcial e, chorando, implorou que a irmã Dinarzad pudesse passar a noite ali ao seu lado. O sultão concordou.
Quando faltava uma hora para raiar o dia, a irmã fez exatamente como Xerazad havia pedido; acordou-a uma hora antes do nascer do sol, dizendo:
– Minha querida irmã, antes que nasça o dia, conte uma daquelas belas histórias que você conhece!
Talvez seja a última vez que terei o prazer de ouvi-las!

A reunião geral dos ratos. Fábula de Esopo com comentários e atividades.

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Uma vez os ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um jeito de acabar com aquele eterno transtorno. Muitos planos foram discutidos e abandonados. No fim um rato jovem levantou-se e deu a idéia de pendurar uma sineta no pescoço do gato; assim, sempre que o gato chegasse perto eles ouviriam a sineta e poderiam fugir correndo. Todo mundo bateu palmas: o problema estava resolvido. Vendo aquilo, um rato velho que tinha ficado o tempo todo calado levantou-se de seu canto. O rato falou que o plano era muito inteligente, que com toda certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim. Só faltava uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato?

Moral da história: Inventar é uma coisa, fazer é outra.
Esopo


Quando você tiver que resolver um problema, deve pensar em todas as possibilidades, o que parece mais fácil nem sempre é a melhor solução. Muitas vezes o caminho mais difícil pode ser o único possível.
Na busca de solução para qualquer situação da vida é preciso analisar todas as alternativas, como fazer e as consequências.

Atividades: 

Dividir a turma em grupos onde o líder vai propor uma situação de risco para todos. Depois de debater entre si, o líder do grupo vai apresentar o problema e a solução para os demais.
Após concluir o trabalho, o educador faz o resumo das conclusões comparando com a fábula.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A RAPOSA E O CORVO. - Fábula de Esopo.

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Um Corvo roubou um queijo e com ele fugiu para o alto de uma árvore. Uma Raposa, ao vê-lo, desejou tomar posse do queijo para comer. Colocou-se ao pé da árvore e começou a louvar a beleza e a graça do Corvo, dizendo: - Com certeza és formoso, gentil e nenhum pássaro poderá ser comparado a ti desde que tu cantes. O Corvo, querendo mostrar-se, abriu o bico para tentar cantar, fazendo o queijo cair. A Raposa abocanhou o petisco e saiu correndo, ficando o Corvo, além de faminto, ciente de sua ignorância. 


MORAL DA HISTÓRIA:


Cuidado com as pessoas que fazem muitos elogios, porque nem sempre são sinceras, muitas vezes querem com os elogios apenas alguma coisa que possuímos e usam o elogio para conseguir. A vaidade em excesso é sempre prejudicial. 

Atividades:

Colorir:
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 Reescrever a história com as suas palavras:

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Dudu o menino curioso. Historinha com atividades.

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Era uma vez um menino chamado Eduardo, seu apelido era Dudu. Um dia, ele foi passear em uma chácara, onde moravam os avós de seu amigo Pedro. Era um lugar muito bonito, com muitas árvores, flores, e também muitos e diferentes animais.
Havia animais que ele nunca tinha visto tão de perto: galos, galinhas, porcos, cavalos e até um sapo verde, que pulava pelas redondezas. Quando ele conheceu o galo, ficou encantado e ao mesmo tempo curioso para saber se o galo podia se comunicar. O som que ele emitia era diferente da maneira como Dudu falava, pois o galo tinha um jeito próprio de se expressar, que era mais ou menos assim (perguntar às crianças como é que o galo fala):

- Có, có, có...

Em seguida, Dudu passou pelo pato, que também falava, mas de outra maneira (perguntar às crianças como é que o pato fala):

- Quá, quá, quá...

Dudu começou então a imitar os animais, e se divertiu muito (perguntar que animais as crianças conhecem e pedir que façam o som de cada animal citado).

Depois, Dudu perguntou para sua mãe:

- Mãe, todos os animais se comunicam?

- Sim – respondeu a mãe.

- E todos ele têm nariz, boca e olhos?

- Todos os bichos foram criados por Deus, que é um Pai muito bondoso.

Todos os bichos que você viu: galos, galinhas, porcos, cavalos e o sapo possuem boca para falar e ouvem os sons com suas orelhas. Também tem nariz para respirar e sentir o cheiro das coisas. E como nós, têm olhos para ver esse mundo lindo criado por Deus. Porém as crianças, os homens e as mulheres têm mãos para pegar os objetos e senti-los e os animais possuem patas que fazem a mesma coisa. Tudo isso são presentes de Deus para com seus filhos, que somos todos nós.
- Puxa vida! Quanta coisa para agradecer a Deus... Se eu não tivesse boca como eu ia comer? Como é que eu ia falar? E se não tivesse ouvidos para ouvir, não poderia escutar a conversa dos bichos. Se não tivesse nariz, como eu ia respirar? Como sentir o cheiro das flores e da comida gostosa que a vovó faz? E os olhos? Como são importantes... Se não tivesse olhos não poderia ver o mundo todo... E se não tivesse mãos, como iria pegar as coisas, carregar os brinquedos, e pegar na sua mão para atravessar a rua?
- Pois é, meu filho, não esqueça de agradecer a Deus o corpo físico que você possui. Ele é um presente de Deus.
História: Mara Winsh e Claudia Schmidt
Tema: comunicação, cuidados com o corpo.


Responsabilidade: Grupo Espírita Seara do Mestre

O MACHADO E AS ÁRVORES. Fábula de Esopo.

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Um homem foi à floresta e pediu às árvores que estas lhe doassem um cabo para o seu machado. O conselho das árvores concordou com o seu pedido e deu a ele uma jovem árvore para este fim.
Logo que o homem colocou o novo cabo no machado, começou furiosamente a usá-lo e em pouco tempo havia derrubado com seus potentes golpes, as maiores e mais nobres árvores da floresta.
Um velho Carvalho lamenta quando a destruição dos seus companheiros já está bem adiantada, e diz a um Cedro seu vizinho:
- O primeiro passo significou a perdição de todas nós. Tivéssemos respeitado os direitos daquela jovem árvore, ainda teríamos os nossos próprios e o direito de ficarmos de pé por muitos anos.

Autor: Esopo

Moral da História:

Quem menospreza ou discrimina seu semelhante, não deve se surpreender se um dia lhe fizerem a mesma coisa. 

Saiba sobre bullying  clicando AQUI

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/diferentes-nacionalidades-figures-1124478/

Somos iguais não importando a cor, situação social, e diferenças individuais. Pedir que falem sobre as diferenças e quando se tornam problema.

domingo, 25 de outubro de 2015

Um velho carvalho. Uma meditação e uma lição de vida para crianças.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/%C3%A1rvore-carvalho-velho-carvalho-893273/

Fecha os olhos e respira profundamente, inspira e expira, inspira e expira. Ouve o som do suspirar e do sussurrar da tua respiração. É um som como o vento a assobiar por entre as folhas de uma árvore. Agora pega na tua lanterna mágica e segue pelo Caminho Encantado. Onde irá levar-te esta noite?
O murmúrio fica cada vez mais alto e encontras-te junto à base de um enorme e velho carvalho. Mas as folhas que esvoaçam ao vento não estão na árvore. Estão no chão, à tua volta, secas e castanhas, avançam e recuam, dançam e caem. Ali, de pé, com a árvore despida, começas a desejar que fosse primavera e não o princípio do inverno.
A árvore é antiga — tem mais de quinhentos anos. Balança suavemente ao vento e tu ouves com atenção. Sim, parece mesmo estar a segredar-te algo.
— Repara na linda forma dos meus ramos — murmura. — Olha para o lindo desenho rendilhado que fazem os meus ramos com o céu em fundo.
Encostas-te, descontraído, ao grande tronco da árvore cheio de nós e sentes-te seguro e feliz.
Abres os olhos. Tudo mudou. A árvore está coberta de folhas brilhantes. Voam pássaros pelos ramos, o sol reluz por todo o lado, criando sombras que se movem, ligeiras, à tua volta. O mundo parece agora tão brilhante e movimentado que quase desejas que a espessa folhagem do verão te venha proteger deste sol ofuscante. Novamente, parece que a árvore te sussurra:
— Olha para a vida nova que há nos meus ramos — as folhas abrem e os pássaros saem dos ovos. Com toda esta atividade, começas a sentir-te cansado e as tuas pálpebras começam a fechar-se. Quando voltas a abrir os olhos, estás debaixo de uma sombra verde e fresca. Tudo é verde. Mas assim que começas a querer mais cores, a antiga árvore volta a segredar-te.
— Sentes esta paz? Deixa-te estar, relaxa e espera que as sementes amadureçam.
O calor do sol do verão faz-te adormecer rapidamente.
Agora o vento volta a soprar por entre as folhas. Desta vez silva e uiva. Bem acordado, começas por pensar que a árvore está a arder! Tem as cores do fogo — vermelho dourado e cobre — e balança como um navio numa tempestade. Caem a teus pés bolotas maduras. Pegas numa e observa-la de perto. Podia ser um pequenino ovo dourado numa taça para ovos. Não precisas que a árvore te diga agora como tudo está bonito — podes ver por ti mesmo. Mas voltas a ouvir o sussurro.
— Todas as estações são maravilhosas — diz a árvore. — Aproveita cada uma delas. Leva a bolota e planta-a. Sê paciente, porque levará muitas primaveras e verões, outonos e invernos até se tornar uma árvore grande como eu.
Agora, visualiza-te a plantar a bolota. Achas que a tua árvore vai viver quinhentos anos?
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Afirmações.

Procura o melhor no que te rodeia. Geralmente, há algo que te satisfaz. Não desejes sempre algo diferente daquilo que tens.
Se fores paciente, notarás mudanças incríveis na Natureza, que acontecem muito lentamente.
Se plantares agora uma semente estás a fazer algo para o futuro.
Há uma máxima que diz que “A idade traz a sabedoria”, o que significa que quanto mais cresceres mais sábio irás ficar.

Anne Civardi, Joyce Dunbar, Kate Pety, Louisa Somerville
Dorme Bem.



Som de relaxamento com água e pássaros para acompanhar a leitura da meditação.


Temas: 

amor à natureza, ecologia, estações do ano, tudo tem seu tempo, paciência, saber semear e cuidar para ter uma boa colheita.



Reflexão do texto: 

— Todas as estações são maravilhosas — diz a árvore. — Aproveita cada uma delas. Leva a bolota e planta-a. Sê paciente, porque levará muitas primaveras e verões, outonos e invernos até se tornar uma árvore grande como eu.
Agora, visualiza-te a plantar a bolota. Achas que a tua árvore vai viver quinhentos anos?

Colhemos o que semeamos. Para colher bons frutos e sermos felizes, precisamos fazer o bem e ajudar o próximo. 
Só você pode modificar tua vida com tuas atitudes, portanto procura ser sempre melhor para ter dos outros boas atitudes, porque a gente semeia o que colhe.

Cuida dos teus pensamentos e ajuda de acordo com as tuas possibilidades, seja em casa, na escola, no bairro. com o esforço de cada um a sociedade será melhor.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Filhos do Coração – A adoção explicada a pais e filhos.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/beb%C3%AA-casal-an%C3%A9is-de-casamento-1150109/

Era uma noite como outra qualquer.
A Luena estava sentada no chão a folhear o álbum de família. Os irmãos brincavam na sala com o Rafa e o Manecas, o cão e o gato lá de casa que, sendo os melhores amigos, às vezes pareciam os piores inimigos.
De repente, o silêncio foi interrompido pela curiosidade de uma menina de cinco anos.
— Mãe… como é que eu nasci? Porque é que não há fotografias minhas em bebé aqui no álbum?
A mãe percebeu que aquela, afinal, ia ser uma noite muito especial. Levantou-se do sofá e foi sentar-se ao lado da filha.
— Vou contar-te a história mais bonita do mundo e a mais especial, porque é a tua história. Sabes como nascem os bebés?
— Nascem de repolhos grandes! — exclamou o Manuel.
— Não é nada… chegam no bico das cegonhas! — contrapôs o Jorge.
Maria desatou a rir e avançou com a sabedoria de quem acredita que domina o mundo do alto dos seus dez anos:
— Os bebés nascem das barrigas das mães! O pai põe uma sementinha num ovo que a mãe tem dentro da barriga e, depois, a barriga começa a crescer, a crescer, a crescer e, nove meses depois, nascem os bebés!
— Nem todos — interrompeu a mãe —, alguns filhos nascem nos corações!
Nesse momento até as certezas da Maria, a irmã mais velha, desapareceram.
Curiosos, os irmãos aproximaram-se da mãe, prontos para ouvir esta história que, como todas as histórias importantes, começa com um…
— Era uma vez… — disse o pai da Luena que acabara de entrar na sala.
—… um coração que engravidou de amor — acrescentou a mãe.
— Os corações também engravidam? — interrompeu a Luena curiosa.
— Claro que sim! Esse coração, tal como as barrigas das mães, cresceu tanto, tanto, tanto, que se apaixonou por uma menina cor de canela e de trancinhas no cabelo que escolheu fazer parte desta família — respondeu o pai emocionado.
— Sabes Luena… há várias maneiras de criar uma família, mas o importante é o amor que une as pessoas dessa família, porque as famílias são para sempre — concluiu a mãe.
— Mesmo quando se zangam? — perguntou o Manuel.
— Claro… não vês que, apesar de se zangarem, o Rafa e o Manecas adoram-se e não conseguem viver um sem o outro? — lembrou a mãe.
A Luena ouvia em silêncio com muita atenção, mas, quanto mais lhe explicavam, menos conseguia entender. Pegou na mão da mãe, obrigando-a a fixar o olhar no seu, que suplicava por mais esclarecimentos.
— Então como é que eu cheguei ao teu coração grávido, mãe?
— Já vais perceber… mas, o mais importante é que estás cá dentro, no nosso coração, como todos os teus irmãos.
Pelo olhar perdido da Luena, todos conseguiram imaginar a confusão que reinava na sua cabeça. O pai avançou com mais explicações:
— Sabes Luena, existem muitos lugares no mundo onde os pais não têm condições para criar os filhos…
—… e, por isso, têm que deixá-los em instituições como aquela no Gana, em África, aonde nós te vimos pela primeira vez — acrescentou a mãe.
— E nesses lugares existem muitos meninos como eu, mamã? — perguntou a Luena.
A resposta chegou pela mão da irmã mais velha, a quem os dez anos davam direito legítimo a uma resposta sempre na ponta da língua:
— Espalhados pelo mundo, existem meninos de todas as raças e cores que precisam de pais, porque os seus pais da barriga não puderam cuidar deles como eles mereciam.
«Raças» era uma palavra difícil para os irmãos mais novos. O Manuel sabia que era preciso perguntar para conseguir aprender e, por isso, não hesitou:
— O que são raças, papai?
— Raças são características diferentes dos meninos que nascem em todas as partes do mundo: em Portugal, no Gana, na China…
À Luena nunca lhe tinha ocorrido perguntar por que é que a sua cor de pele era diferente da dos seus irmãos… afinal somos todos diferentes uns dos outros! Há crianças gordas, magras, altas, baixas, meninos de olhos azuis e outros de olhos castanhos. A cor da sua pele fora sempre aquela, portanto era uma característica sua.
Ela também sabe que o que é realmente importante sente-se com o coração. E o seu coração traquina dizia-lhe que o importante é o amor que une as famílias e o sentimento de segurança que os filhos têm junto dos pais.
— Ao ver-te pela primeira vez, o nosso coração cresceu tanto, tanto, tanto, que se apaixonou e, desde esse momento, a nossa vida deixou de fazer sentido sem ti — revelou a mãe com ternura.
A Luena ficou em silêncio a saborear o olhar apaixonado dos pais e a pensar em todas as crianças que não têm uma família.
Imaginou os meninos que não pertencem a ninguém e que adormecem à noite sem ter os pais ao seu lado para lhes contarem uma história. Imaginou como deve ser difícil não receber um beijo da mãe todas as manhãs. Imaginou como se devem sentir sozinhas as crianças que estão à espera de conhecer os seus pais do coração…
Espontaneamente correu e abraçou os seus pais com toda a força que conseguiu, numa tentativa desesperada de lhes fazer sentir todo o amor que tem por eles.
— Que bom que é ter uma família! — exclamou feliz.
E a sabedoria dos dez anos da Maria traduziu-se numa verdade simples que, no coração, todos sentem como uma certeza:
— Luena… a nossa família não seria a mesma sem ti…
— É verdade Luena, estamos muito felizes por termos uma irmã como tu — acrescentou o Jorge.
— Papai, e o que acontece às outras crianças que ainda não tem uma família? — perguntou o Manuel.
— Estão à espera de encontrar corações apaixonados que engravidem de amor e consigam formar uma família como a nossa — explicou o pai.
— Sabem que às vezes isso acontece muito depressa, mas outras demora mais tempo. Porém o mais importante é que, no final de tudo, encontrem uma família… e de certeza que isso acaba por suceder! — concluiu a mãe.
A Luena ficou tranquila com as palavras da mãe em relação aos outros meninos que ainda se encontram a viver em instituições. Contudo, uma dúvida insistia em formar a covinha que aparecia na sua bochecha esquerda sempre que algo a preocupava:
— Mamã… mas como é que esses pais que engravidam do coração conseguem escolher uns meninos e deixar lá outros?
— Na verdade, filhota — explicou a mãe orgulhosa da sensibilidade da filha —, esses pais não escolhem os filhos… mesmo que não percebam, eles é que são os escolhidos. Um coração só engravida quando se apaixona, por isso é que pouco importa se os filhos nascem da barriga das mães ou dos seus corações. O amor só pode ser um laço natural… porque ninguém nos pode obrigar a amar!
— Tu, por exemplo, — continuou o pai – escolheste-nos no dia em que te conhecemos e, depois de nos conquistares, deixaste-nos amar-te. As fotografias que te faltam aí no álbum não são importantes, porque a nossa história de amor começou mais tarde, e nem todas as histórias de amor tem de começar numa maternidade.
— Se pensares bem, filhota — acrescentou a mãe —, não há fotografias de todos os momentos felizes que passámos juntos, porque alguns desses momentos guardámo-los cá dentro do coração, que é o melhor álbum da nossa vida!
O Manuel e o Jorge começavam a dar os primeiros sinais de cansaço com um bocejo traiçoeiro. A Maria, a quem a vida naquela noite até tinha conseguido ensinar qualquer coisa nova, foi contagiada e abriu a boca, denunciando a chegada da hora de dormir.
— Meninos, vamos para a cama! Hoje já ouviram uma linda história, que vos deu muito em que pensar! — exclamou o pai divertido.
A mãe levantou-se e distribuiu as crianças pelos quartos, ao ritmo de mimos e beijos de boas-noites. Quando chegou perto da cama da Luena reparou que a covinha da bochecha voltara a ficar visível.
— Mamã… ainda existem muitas famílias à espera de serem escolhidas por essas crianças? — perguntou-lhe a filha.
— Algumas, meu amor… — disse a mãe tentando tranquilizá-la —… mas não te preocupes, porque todas essas crianças vão, de certeza, escolher uma família como a nossa para serem muito felizes.
Aos poucos, a covinha foi desaparecendo. A Luena fechou os olhos, rendendo-se a um sono descansado, e começou a sonhar com um mundo cor-de-rosa, com pinceladas de muitas outras cores alegres e vivas que pintam a realidade de uma menina traquina de cinco anos.
A mãe inclinou-se e beijou o rosto daquela filha especial, que tinha trazido um brilhante arco-íris à sua vida. Depois, afastou-se em silêncio e ficou a pensar que, se todas as famílias soubessem quão maravilhosas e completas se podem tornar as suas vidas quando os seus corações engravidam, de certeza que as instituições do mundo ficariam vazias de crianças e as suas casas cheias de amor.

Alexandra Borges; Luís Figo; Ana Cardoso.

Filhos do Coração – A adoção explicada a pais e filhos.