quarta-feira, 30 de março de 2016

O Morcego e a Doninha. Lindo conto de Esopo.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php image=132672&picture=morcego-cinza


Um Sábio não transforma uma solução em outro problema...

Sábio é aquele incapaz de criar um problema a partir de uma solução...



Um Morcego desajeitado caiu acidentalmente no ninho de uma Doninha, que, com um bote certeiro o capturou.
Atemorizado, o Morcego pediu que esta lhe poupasse a vida, mas a Doninha não queria lhe dar ouvidos.
"Você é um Rato," ela disse, "e Eu sou, por natureza, inimiga dos Ratos. Cada Rato que pego, evidentemente, me serve de jantar, essa é a lei..."
"Mas, a senhora veja bem, eu definitivamente, não sou um Rato..." tentou se explicar o infeliz Morcego. "Veja minhas asas. Você já viu um Rato que é capaz de voar? Claro que sou apenas um tipo de pássaro, de uma variedade, podemos afirmar, um tanto quanto exótica. Por favor, me deixe ir embora..."
A Doninha, olhando melhor para sua vítima, concordou que ele não era um Rato e o deixou ir embora. Mas, alguns dias depois, o mesmo atrapalhado Morcego, cegamente, caiu outra vez no ninho de outra Doninha.
Ocorre que Esta Doninha era inimiga declarada de todos os pássaros, e logo que o tinha em suas garras, preparou-se para abocanhá-lo.
"Você é um pássaro," ela Disse, "por isso mesmo o comerei..."
"O que?", exclamou o Morcego, "Eu, um pássaro! Isso é quase um insulto. Todos os pássaros possuem penas! Cadê minhas penas, você é capaz de vê-las? Claro que não sou nada além de um simples Rato. Tenho até um lema que é: Abaixo todos os Gatos!"
E o Morcego teve sua vida poupada pela segunda vez.

Moral da História:

A flexibilidade é a virtude dos Sábios...

Reflexões:

Para cada situação da vida você deve ter atitudes e respostas diferentes, e não significa falta de personalidade, ao contrário, significa que você entendeu que tudo muda na vida e nas pessoas.

Você muda todos os dias. No seu corpo acontecem coisas importantes que muitas vezes passam despercebidas, como a renovação das células, cabelo, pele e unhas, além dos órgãos internos.  Assim como o corpo muda, você vai amadurecendo e adquirindo novos conhecimentos.

Você acha que a natureza também muda?

Por quê?



Será que os peixes do mar são sempre os mesmos?


Recorte de morcego bem fácil:
Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/morcego-%C3%ADcone-s%C3%ADmbolo-black-895270/

segunda-feira, 28 de março de 2016

A verdadeira história de Mogli o menino lobo.


Quem é Mogli?

Mogli é um personagem fictício criado em 1894, pelo escritor britânico/indiano Joseph Rudyard Kipling. Joseph nasceu em Mumbai na Índia, época em que a região era controlada pela Companhia Britânica das Índias Orientais.
O nome verdadeiro do personagem principal dessa história não é Mogli e sim Mowgli, que significa sapo na linguagem criada pelo autor.

Influências.

O tema abordado na época, já não era novidade, pois já existia um conto semelhante ao de Mogli, o conto de Rômulo e Remo, a história em que os gêmeos bebês foram criados por lobos que posteriormente fundariam a Antiga Roma.
Com a fama, o conto foi escrito por outros autores e inclusive a Disney não ficou de fora, pois em 1967, um filme baseado na história foi lançada pelo estúdio.
Pouco tempo depois, outra história ganhou fama com a relação entre homem e animal: A história de Tarzan.
Além de tudo, a história de Mogli é muito utilizada como referência às leis da sobrevivência dos escoteiros.

A verdadeira história de Mogli.


Certo dia, um guarda florestal encontrou um jovem talentoso em uma floresta na área central da Índia. Como o jovem, possuía algumas habilidades extraordinárias de caça e rastreamento, o guarda convidou Mowgli a se juntar no serviço florestal. A origem da suas habilidades, está atrelado em sua criação, pois o protagonista, teria sido criado por uma matilha de lobos.
Mowgli perdeu seus pais, após a um ataque de um tigre, quando ele ainda era um bebê. Incrivelmente, o bebê sobreviveu e foi encontrado e adotado pelos lobos. O bebê, teria sido batizado de Mowgli, que significa "SAPO", por ser pelado, não possuidor de uma camada de pelos, como os lobos.
O bebê cresce junto com seus irmãos lobos e aprende a caçar e outras habilidades que um humano normal, jamais conseguiria aprender. Além do mais, ele tinha uma capacidade única entre os lobos, a capacidade de retirar todos os espinhos do corpo facilmente de seus companheiros.
Com o passar do tempo, Mowgli encontrou uma aldeia de humanos e se deparou com um casal que teria perdido seu filho pelo mesmo tigre que teria matado os pais de Mowgli. O casal então,  resolve adotar o menino lobo.
O tigre que tirou a vida dos pais do garoto, ainda o persegue, ciente da situação, Mowgli bola uma emboscada para o tigre. O tigre cai em um barranco e é morto pisoteado por uma manada de búfalos. Após sua morte, sua pele é arrancada pelo menino lobo. Enquanto esfolava o tigre, um caçador avistou a cena e incita os moradores de uma aldeia a persegui-lo. Para piorar a situação, o caçador ainda captura os pais adotivos de Mowgli, enfurecido, ele envia búfalos e elefantes para a aldeia dos caçadores.
Por fim, Mowgli reencontra seus pais adotivos e decide aceitar a sua verdadeira natureza de um ser humano, passando a viver com eles.

domingo, 27 de março de 2016

A Dama e o Vagabundo. Um Clássico da Literatura infantil com ilustrações e atividades.

Uma jovem recém-casada recebeu de presente uma pequena cadelinha que chamou de Lady.
E desde então é um festival de carinhos que não tem fim!
Lady é tão linda que os cães do quarteirão não tem olhos para nada, a não ser para ela.
Especialmente Vagabundo!
Porém, Lady recusa-se a falar com ele. Ela acha tão despenteado, tão mal-educado!
Um belo dia, Lady deu adeus à sua boa vida.
Sua dona teve um bebê.
Todos os sorrisos, todos os carinhos são para o recém-nascido.
Mas o pior de tudo é quando tia Sarah chega em casa com seus dois horríveis gatos.
Si e Ão.
Os dois siameses malvados começam imediatamente a atacá-la e a mexer em tudo que havia dentro de casa.
Lady defende, porém quebra tudo na sala.
Como punição lhe colocam uma focinheira.
Lady se debate, salta, dá pulos, se enfurece!
Para onde será que ela vai?
Ela foge desesperada para a rua, e os cães vadios a atacam sem piedade.
Mas eis que chega o Vagabundo! Ele rosna, morde, afasta os cachorrões, Salvando Lady.
Lady se encanta com a bravura de Vagabundo e começa se apaixonar!
Vagabundo conduz Lady à uma cantina do seu amigo Tony. E aquele dia em especial Tony prepara uma deliciosa macarronada para os dois.
E ali começou um grande romance. 
Mais tarde eles se casaram, tiveram muitos filhotes e Lady pode voltar com sua família para casa, onde todos puderam ser felizes.

A Dama e o Vagabundo (no original em inglês: Lady and the Tramp) é um filme americano de animação produzido pela Disney em 1955 e baseado em conto do autor Ward Greene.

Para imprimir o livrinho da história A Dama e o Vagabundo para colorir clique AQUI

Voa Voa Passarinho.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=150714&picture=os-passaros-do-amor-amp-girassois

Voa, voa, passarinho voa
Corta os ares deste céu azul anil
O sol te aquece as costas
Enquanto plana em pleno vento norte
Repousa num fio a assoviar

À tardinha ainda há quem voe
Perfurando as nuvens feitas de algodão
Sobrevoar as casas, subir, descer, girar, dar piruetas
Voltar para o ninho e descansar

Voa, voa, vai lá no céu, que nem avião de papel
Sobe, sobe feito um balão, a vida é pura diversão




Recortes: 

Para os pequenos você pode levar o molde e as crianças fazem o recorte do passarinho para depois pintar. Podem fazer um céu azul em cartolina e depois colar seus trabalhos.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=125793&picture=dois-passaros-pequenos

sexta-feira, 25 de março de 2016

Ou isto ou aquilo. Cecilia Meireles. Leia poesia para suas crianças.

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecilia Meireles.



Essa linda poesia pode ser introdução e preparação para trabalhar temas como: escolhas, destino, livre arbítrio, responsabilidade.
A poesia nunca deve ser explicada, apenas sentida com toda a sua beleza e musicalidade.
Mas depois de ser lida, pode-se utilizar os temas abordados como incentivo para outros temas edificantes.
As atividades a serem feitas utilizando uma poesia são muitas, indo desde o desenho livre até dinâmicas e dramatizações.
Sugestão para o dia: reunir as crianças em grupo onde cada grupo vai escolher uma vivência de escolha e criar uma historinha.
Se as crianças forem pequenas o educador deverá levar exemplos como:
Seus pais não estão em casa. Você tem que estudar para a prova, mas está com vontade de brincar no computador.
Qual a escolha correta? Escreva uma historinha resumida da sua escolha e depois ilustre.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O Sapateiro e Os Elfos, dos Irmãos Grimm. Um conto de Natal.

Era uma vez um sapateiro que tinha ficado tão pobre, mesmo sem culpa nenhuma, que a única coisa que lhe restara era um pedaço de couro que dava para fazer um único par de sapatos. De noite, ele cortou o molde dos sapatos, planejando começar a trabalhar neles no dia seguinte. Depois, de consciência tranquila, foi calmamente para a cama, entregou-se a Deus, e adormeceu.
De manhã, rezou suas orações e ia se sentar para começar a trabalhar quando viu que os sapatos estavam prontinhos em cima da banca. Ficou tão espantado, que nem sabia o que pensar. Pegou os sapatos e olhou de perto. Não havia um único ponto irregular e estava perfeito como se tivesse sido feito por um mestre-artesão.
Melhor ainda: logo chegou um cliente que gostou tanto dos sapatos que pagou por eles mais do que seria o preço normal. Com o dinheiro, o sapateiro ia comprar um pedaço de couro que dava para fazer dois pares de sapatos. Novamente, ele deixou os moldes cortados de noite, antes de ir deitar, pretendendo trabalhar neles com mais ânimo no dia seguinte. Mas nem precisou, porque quando se levantou os sapatos já estavam prontos. E também logo chegaram compradores, que lhe pagaram o suficiente para que ele comprasse couro para quatro pares novos.
Na manhã seguinte, ele encontrou os quatro pares prontos. E assim continuou: os sapatos que ele deixava cortados de noite estavam terminados de manhã. Em pouco tempo ele estava conseguindo se manter decentemente e, daí a mais um pouco, estava rico.
Numa noite, pouco antes do Natal, depois que o sapateiro tinha cortado o couro e eles estavam se preparando para ir dormir, ele disse para a mulher:
— E se a gente ficasse acordado hoje para ver quem é que está nos ajudando?
A mulher gostou da ideia e deixou a lâmpada acesa. Os dois se esconderam num canto, atrás de umas roupas, e ficaram esperando.
À meia-noite, dois homenzinhos nus e com ar muito esperto entraram, se inclinaram diante da banca de trabalho, pegaram as peças que estavam cortadas e começaram a furar, costurar e martelar com tanta rapidez e agilidade em dedinhos pequenos que o sapateiro nem acreditava, de tão espantado. Trabalharam sem um momento de descanso, até que os sapatos estavam prontinhos, em cima da banca. Então saíram correndo e foram embora. Na manhã seguinte, a mulher disse:
— Esses homenzinhos nos fizeram ficar ricos. Devíamos mostrar a eles como estamos gratos. Eles devem ter frio, coitados, correndo de um lado para outro sem nada para vestir. Sabe de uma coisa? Vou fazer umas camisas e calças para eles, coletes, e casacos… E você podia fazer uns pares de sapatos.
— Ótima ideia disse o sapateiro.
Naquela noite, quando aprontaram tudo, deixaram os presentes em cima da banca de trabalho, em vez dos moldes de couro cortado. Depois se esconderam para ver o que os homenzinhos iam fazer. À meia-noite, lá chegaram eles correndo, prontos para trabalhar. De início, ficaram meio intrigados ao ver aquelas roupinhas, em vez do couro cortado. Mas deram pulos de alegria. Ligeiros como o relâmpago, vestiram as roupinhas lindas, se ajeitaram todos e cantaram:
— Estamos lindos, tão elegantes. Sem mais trabalho, como era antes…
Pularam e dançaram, saltaram por cima das cadeiras e dos bancos, e finalmente saíram pela porta afora, sem parar de dançar. Depois disso, nunca mais voltaram, mas o sapateiro continuou prosperando até o fim de seus dias, porque tudo em que ele punha as mãos dava certo.



Um conto dos Irmãos Grimm.

Moral da história: 

quem trabalha com vontade e capricho sempre é recompensado com ajudas de outras pessoas.


Significado de Elfos:


[Mitol.]- Elfos são personagens da mitologia escandinava; gênios, de pequeno porte, espertos, travessos e geralmente benfeitores dos homens. São divididos em elfos das
trevas, que vivem em regiões subterrâneas e elfos da luz, que são mais belos que o Sol e vivem em um país fabuloso, chamado Alfheim.


Para você saber sobre contação de histórias, clique AQUI

Perguntas:

- O sapateiro teve culpa de ficar pobre?

- Quantos pares de sapato dava para fazer com o couro que restou?

- Você acha que ele agiu corretamente ao utilizar o último pedaço de couro para fazer um sapato?

- O sapateiro confiava em Deus? E você, também confia?

- Sem a ajuda dos Elfos, você acha que o sapateiro conseguiria?

- Os Elfos são do bem ou do mal?

Pedir que a turma faça um resumo do restante da história.

Por que os Elfos ao receberem as roupas não voltaram mais?

- A missão dos Elfos era apenas ajudar sem pedir nada em troca - 

Atividade:

Desenho livre sobre a parte da história que mais gostaram.

domingo, 20 de março de 2016

Jasão. Mitologia grega.

Jasão é um importante personagem herói da cultura grega.
Filho de Esão com Alcímede ou Polímede, já que há versões diversas sobre quem seria de fato sua mãe, Jasão era proveniente da Tessália, uma região localizada na parte central da Grécia banhada pelo mar a Leste. De acordo com a tradição, Jasão teria sido criado pelo centauro Quíron, um homem cuja metade de baixo de seu corpo era de cavalo. Quíron era diferente dos tradicionais centauros com fama de bebedores e indisciplinados, ele era inteligente, civilizado e bondoso, famoso e reconhecido por sua inteligência superior a dos seus pares, especialmente no que se referia ao trato com a medicina.
Jasão era membro de uma linhagem nobre. Seu avô, Creteu, era fundador do trono de Lolcos, uma cidade da mitologia grega localizada também na Tessália. O trono foi passado para o tio de Jasão, Pélias, que temia a profecia de ser morto por seu sobrinho. Para fugir de seu suposto destino, Pélias enviou Jasão para uma missão quase impossível, que era trazer o Velocino de Ouro, a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo, de Cólquida, região localizada no sul do Cáucaso, muito distante. 
Essa era a condição estipulada por Pélias para que seu sobrinho restituísse o trono. Jasão foi então para Argo, uma cidade na Península do Peloponeso, para construir sua nau. Lá, ele reúne uma tripulação de heróis para acompanha-lo que ficaria conhecida como argonautas.
Jasão e os argonautas enfrentaram vários desafios até, finalmente, chegarem à Cólquida. 
Para piorar, o soberano do local, o Rei Eetes, exigiu que Jasão cumprisse várias tarefas para que tivesse o direito de obter o Velocino de Ouro. Entre as tarefas exigidas estavam arar um campo com touros que cuspiam fogo, semear os dentes de um dragão, lutar com o exército que brotaria desses dentes semeados e passar pelo dragão que fazia a guarda do Velocino. Para surpresa do rei, Jasão realizou completamente todas as tarefas e, enfim, obteve o que fora buscar. No entanto, o herói grego se enamorou pela filha do rei, Medeia, e fugiu com ela buscando o caminho de casa. No meio do trajeto, Jasão teve de enfrentar mais uma série de desafios por conta disso. E, ao voltar para Lolco, Medeia planeja a morte de Pélias para fazer cumprir a profecia. Pélias ficou surpreso com a volta de Jasão, pois achava que sua tarefa era impossível de ser realizada. 
Ao fim, foi morto e seu trono passou para seu filho Acasto, que foi morto pelas próprias filhas, também enganadas por Medeia. Só então Jasão sucedeu como soberano no trono de Lolco.
Passado algum tempo, Jasão se retirou para Corinto e, após dez anos de casamento com Medeia, o herói grego a abandonou para se casar com a filha do rei de Corinto, Gláucia. Medeia, que já havia demonstrado sua capacidade de arquitetar a morte de seus rivais, vingou-se de Jasão matando Gláucia e os próprios filhos que tivera com o grego de Tessália. Ela fugiu em seguida para Atenas, onde se casou com o rei Egeu e teve um filho, Medo. Mãe e filho retornaram para Cólquida e descobriram que Eetes havia sido deposto por seu filho Perses. Mais uma vez, Medeia, agora junto com seu filho, planeja outra morte e entrega o reino a Medo. Enquanto isso, Jasão vivia em descrédito e tristeza quando, muitos anos depois, foi morto por um pedaço de madeira.



Atividade: 

Dramatização da lenda com utilização de máscaras que serão confeccionadas pelas crianças.
Lembrar a origem das máscaras e do teatro como oriundos da Grécia, fazendo link com a história de Jasão.

Subsídios para o educador:

História das Máscaras.

Por Ana Lucia Santana.

Ao longo da história da humanidade, as máscaras foram utilizadas com os fins mais distintos, de acordo com a cultura e a religiosidade do povo que as adotavam. Geralmente elas permitiam o acesso a universos regidos pela imaginação ou a dimensões espirituais invisíveis. Os contadores de histórias assumiam muitas vezes o uso das máscaras para dar mais vida às suas narrativas, enquanto muitos eventos próprios da Natureza, mas que não se podiam ainda explicar, eram compreendidos através do recurso a estas ferramentas de ilusão e dissimulação.
Elas desempenharam, em muitas civilizações, o papel espiritual, como instrumentos principais em rituais sagrados. Assim foi na África, quando eram elaboradas por mãos artísticas, com feições distorcidas, proporcionalmente maiores do que as normais, constituídas de cobre, madeira ou marfim; no Egito Antigo, onde mascaravam as múmias prestes a serem enterradas, enfeitadas com pedras preciosas; entre os indígenas norte-americanos, habitantes do noroeste dos EUA, bem como os Hopi e os Zuni, em solenidades nas quais pranteavam seus entes queridos que haviam partido para a espiritualidade.
Os nativos brasileiros, em suas cerimônias, portavam máscaras simbolizando animais, pássaros e insetos; na Ásia, elas eram assumidas tanto em ritos espirituais quanto na realização de casamentos; em várias tribos primitivas, os índios mais velhos usavam máscaras em cerimônias de cura, para expulsar entidades negativas, com o objetivo de unir casais em matrimônio ou nos rituais de passagem, momentos marcados pela transição da infância para o mundo dos adultos.
As máscaras também tinham características simbólicas, como se verifica nas tribos de esquimós que residem no Alaska. Eles acreditavam na dupla vida de cada ser, de um lado humana, de outro animal. Desta forma, as máscaras também eram produzidas com uma feição duplicada; em algumas festas erguia-se a mais externa, revelando a outra, até então oculta.
No mundo ocidental os antigos gregos foram pioneiros no uso das máscaras, adotadas nas festas dionisíacas, perpetradas em homenagem a Dionísio, divindade responsável pelo vinho e pelos rituais de fertilidade. Nessas ocasiões, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara. A Grécia foi também o berço do Teatro, modalidade artística que recorria constantemente ao encantamento das máscaras, até mesmo como uma forma de evitar que os atores incorporassem os mortos. Atualmente ainda se vê este hábito perpetuado no Japão.
Com a queda do Império Romano, os cristãos primitivos praticamente proibiram o uso das máscaras, considerando-as instrumentos do paganismo. Na América, elas desembarcaram junto com os europeus que para lá se transferiram, tanto como brinquedos infantis, quanto para bailes e outras festas. Em Veneza, no século XVIII, as máscaras transformaram-se em itens de consumo cotidiano por todos os seus habitantes, velando apenas o nariz e os olhos. Logo foram proibidas, pois dificultava a ação da polícia na identificação de criminosos, muito comuns nesta cidade naquela época.
Atualmente elas são utilizadas em festas tradicionais, no Halloween, o famoso Dia das Bruxas, e no Carnaval; bem como em determinadas práticas profissionais, como a do apicultor, que assim se protege do ataque das abelhas; ou em certos esportes, como a esgrima.


sábado, 19 de março de 2016

O Gato de Botas. Um clássico da literatura infantil sempre atual.

Era uma vez um moleiro muito pobre, que tinha três filhos. Os dois mais velhos eram preguiçosos e o caçula era muito trabalhador.
Quando o moleiro morreu, só deixou como herança o moinho, um burrinho e um gato. O moinho ficou para o filho mais velho, o burrinho para o filho do meio e o gato para o caçula. Este último ficou muito descontente com a parte que lhe coube da herança, mas o gato lhe disse:
- Meu querido amo, compra-me um par de botas e um saco e, em breve, te provarei que sou de mais utilidade que um moinho ou um asno.
Assim, pois, o rapaz converteu todo o dinheiro que possuía num lindo par de botas e num saco para o seu gatinho. 
Este calçou as botas e, pondo o saco às costas, encaminhou-se para um sítio onde havia uma coelheira. Quando ali chegou, abriu o saco, meteu-lhe uma porção de farelo miúdo e deitou-se no chão fingindo-se morto.
Excitado pelo cheiro do farelo, o coelho saiu de seu esconderijo e dirigiu-se para o saco. O gato apanhou-o logo e levou-o ao rei, dizendo-lhe:
- Senhor, o nobre marquês de Carabás mandou que lhe entregasse este coelho. Guisado com cebolinhas será um prato delicioso.
-Coelho?! - exclamou o rei.
- Que bom! Gosto muito de coelho, mas o meu cozinheiro não consegue nunca apanhar nenhum. Diga ao teu amo que eu lhe mando os meus mais sinceros agradecimentos.
No dia seguinte, o gatinho apanhou duas perdizes e levou-as ao rei como presente do marquês de Carabás.
Durante um tempo, o gato continuou a levar ao palácio outros presente, todos dizia ser da parte do Marquês de Carabás.
Um dia o gato convidou seu amo para tomar um banho no rio. Ao chegarem ao local o gato disse ao jovem:
- De hoje em diante seu nome será Marquês de Carabás. Agora, por favor, tire sua roupa e entre na água.
O rapaz não estava entendendo nada, mas como confiava no gato atendeu seu pedido.
O gato havia levado rapaz no local por onde devia passar a carruagem real.
Esperto, gato ao ver uma carruagem se aproximando começou a gritar:
- Socorro! Socorro!
- Que aconteceu? - perguntou o rei, descendo da sua carruagem.
- Os ladrões roubaram a roupa do nobre marquês de Carabás! - disse o gato.
- Meu amo está dentro da água, ficará resfriado.
O rei mandou imediatamente uns servos ao palácio; voltaram daí a pouco com um magnífico vestuário feito para o próprio rei, quando jovem.
O dono do gato vestiu-se e ficou tão bonito que a princesa, assim que o viu, dele se enamorou. O rei também ficou encantado e murmurou:
- Eu era exatamente assim, nos meus tempos de moço.
O rei convidou o falso marquês para subir em sua carruagem.
- Será que a vossa majestade nos dá a honra de visitar o palácio do Marquês de Carabás? – perguntou o gato, diante do olhar aflito do rapaz.
O rei aceitou o convite e o gato saiu na frente, para arrumar uma recepção par ao rei e a princesa.
O gato estava radiante com o êxito do seu plano; e, correndo à frente da carruagem, chegou a uns campos e disse aos lavradores:
- O rei está chegando; se não lhes disserem que todos estes campos pertencem ao marquês de Carabás, o rei mandará cortar-lhes a cabeça.
De forma que, quando o rei perguntou de quem eram aquelas searas, os lavradores responderam-lhe:
- Do muito nobre marquês de Carabás.
- Que lindas propriedades tens tu!- elogiou o rei ao jovem.
O moço sorriu perturbado, e o rei murmurou ao ouvido da filha:
- Eu também era assim, nos meus tempos de moço.
Mais adiante, o gato encontrou uns camponeses ceifando trigo e lhes fez a mesma ameaça:
- Se não disserem que todo este trigo pertence ao marquês de Carabás, faço picadinho de vocês.
Assim, quando chegou a carruagem real e o rei perguntou de quem era todo aquele trigo, responderam:
- Do mui nobre marquês de Carabás.
O rei ficou muito entusiasmado e disse ao moço:
- Ó marquês! Tens muitas propriedades!
O gato continuava a correr à frente da carruagem; atravessando um espesso bosque, chegou à porta de um magnífico palácio, no qual vivia um ogro muito malvado que era o verdadeiro dono dos campos semeados. O gatinho bateu à porta e disse ao ogro que a abriu:
- Meu querido ogro, tenho ouvido por aí umas histórias a teu respeito. Dizei-me lá: é certo que te podes transformar no que quiseres?
- Certíssimo - respondeu o ogro, e transformou-se num leão.
- Isso não vale nada - disse o gatinho. - Qualquer um pode inchar e aparecer maior do que realmente é. Toda a arte está em se tornar menor. Poderias, por exemplo, transformar-te em rato?
- É fácil - respondeu o ogro, e transformou-se num rato.
O gatinho deitou-lhe logo as unhas, comeu-o e desceu logo a abrir a porta, pois naquele momento chegava a carruagem real. E disse:
- Bem vindo seja, senhor, ao palácio do marquês de Carabás.
- Olá! - disse o rei
- Que formoso palácio tens tu! Peço-te a fineza de ajudar a princesa a descer da carruagem.
O rapaz, timidamente, ofereceu o braço à princesa e o rei murmurou-lhe ao ouvido:
- Eu também era assim tímido, nos meus tempos de moço.
Entretanto, o gatinho meteu-se na cozinha e mandou preparar um esplêndido almoço, pondo na mesa os melhores vinhos que havia na adega; e quando o rei, a princesa e o amo entraram na sala de jantar e se sentaram à mesa, tudo estava pronto.
Depois do magnífico almoço, o rei voltou-se para o rapaz e disse-lhe:
- Jovem, és tão tímido como eu era nos meus tempos de moço. Mas percebo que gostas muito da princesa, assim como ela gosta de ti. Por que não a pedes em casamento?
Então, o moço pediu a mão da princesa, e o casamento foi celebrado com a maior pompa. O gato assistiu, calçando um novo par de botas com cordões encarnados e bordados a ouro e preciosos diamantes.
E daí em diante, passaram a viver muito felizes. E se o gato às vezes ainda se metia a correr atrás dos ratos, era apenas por divertimento; porque absolutamente não mais precisava de ratos para matar a fome.


Autoria: Charles Perrault.

Moral da história: 

algumas mentiras de tão repetidas parecem ser verdade, mas não é legal mentir. Deus está vendo tudo, e tudo o que se faz volta para nós com a mesma força que remetemos.

sexta-feira, 18 de março de 2016

NASCIMENTO E GLORIA DE SATURNO. Mitologia grega para crianças.

Numa era muito antiga — tão antiga que antes dela só havia o caos — o mundo era governado pelo Céu, filho da Terra. Um dia, este, unindo-se à própria mãe, gerou uma raça de seres prodigiosos, chamados Titãs. Ocorre que o Céu — deus poderoso e nem um pouco clemente — irritou-se, certa feita, com as afrontas que imaginava receber de seus filhos. Por isto, decidiu encerrá-los nas profundezas do ventre da própria esposa, à medida que eles iam nascendo.
— Aí ficarão para sempre, no ventre da Terra, para que nunca mais ousem desafiar a minha autoridade! — exclamou, colericamente, o deus soberano.
A Terra, subjugada, teve de segurar em suas entranhas, durante muitas eras, aquelas turbulentas criaturas e suportar, ao mesmo tempo, o assédio insaciável e ininterrupto do marido.
Um dia, porém, farta de tanta tirania, decidiu a mãe do mundo que um de seus filhos deveria libertá-la deste tormento. Para tanto escolheu Saturno, o mais jovem de seus rebentos.
— Saturno, meu filho — disse a Terra, lavada em pranto -, somente você poderá libertar-me da tirania de seu pai e conquistar para si o mando supremo do Universo!
O jovem e ambicioso Titã sentiu um frêmito percorrer suas entranhas.
— Diga minha mãe, o que devo fazer para livrá-la de tamanha dor! — disse Saturno, disposto a tudo para chegar logo à segunda parte do plano.
A Terra, erguendo uma enorme foice de diamante, entregou-a ao filho.
"Tome e use-a da melhor maneira que puder!", disseram seus olhos, onde errava um misto de vergonha e esperança.
Saturno apanhou a foice e não hesitou um instante: dirigiu-se logo para o local onde seu velho pai descansava. Ao chegar ao azulado palácio erguido nos céus, encontrou-o ressonando sobre um grande leito acolchoado de nuvens.
— Dorme, o tirano... — sussurrou baixinho.
Saturno, depois de examinar por algum tempo o rosto do impiedoso deus, empunhou a foice e pensou consigo mesmo: "Realmente... demasiado soturno."
E fez descer o terrível gume, logo abaixo da cintura do pobre Céu.
Um grito terrível, como jamais se ouvira em todo o Universo, ecoou na abóbada celestial, despertando toda a criação.
— Quem ousou levantar mão ímpia contra o soberano do mundo? — gritou o Céu, com as mãos postas sobre a ensanguentada virilha.
— Isto é pelos tormentos que infligiu à minha mãe, bem como a mim e a meus irmãos — respondeu Saturno, ainda a brandir a foice manchada de sangue.
Os testículos do Céu, arrancados pelo golpe certeiro da foice, voaram longe e foram cair no oceano, com um baque tremendo. Em seguida, o deus ferido caiu exangue, sobre seu leito acolchoado, sem poder dizer mais nada. As nuvens que lhe serviam de leito tingiram-se de um vermelho tal que durante o dia inteiro houve como que um infinito e escarlate crepúsculo.
Saturno, eufórico, foi logo contar a proeza à sua mãe.
— Isto é que é filho — disse a Terra, abraçada ao jovem parricida. Imediatamente foram soltos todos os outros Titãs, irmãos de Saturno. Este, por sua vez, recebeu a sua recompensa: era agora o senhor inconteste de todo o Universo.
Quando a noite caiu, entretanto, escutou-se uma voz espectral descer da grande cúpula côncava dos céus:
— Ai de você, rebento infame, que manchou a mão no sangue do seu próprio pai! Do mesmo modo que usurpou o mando supremo, irá também um dia perdê-lo...
Saturno assustou-se a princípio, mas em seguida ordenou a seus pares que recomeçassem os festejos.
— Ora, ameaçazinhas... Deus morto, deus posto! — exclamou, com um riso talhado no rosto.
Mas aquela profecia, irritante como um mosquito, ficara ecoando na sua mente, até que Saturno, por fim, reconheceu-se também meio soturno:

— Será que uma vitória, neste mundo, não pode ser nunca completa?

AS 100 MELHORES HISTÓRIAS DA MITOLOGIA - Deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana A. S. Franchini / Carmen Seganfredo

Moral da história: violência não se combate com violência.

Significado de Soturno:

adj. Tristonho; que demonstra melancolia ou tristeza.
Assustador; que provoca medo ou pavor.
Sombrio; que está imerso em trevas.
s.m. Escuridão; que não é claro; sem claridade.
(Etm. Forma Alt. de Saturno; do latim: saturnus.i)

Dinâmica: 

sortear bilhetinhos com situações familiares de conflito. Cada criança pega um e é convidada a resolver o problema sem violência mas utilizando o diálogo.

Após ilustrar a situação com um desenho livre.

O Soldadinho de Chumbo. Um clássico da literatura infantil.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/soldadinhos-de-chumbo-modelo-208581/

Era uma vez um menino que tinha muitíssimos brinquedos. Guardava todos no seu quarto e, durante o dia, passava horas e horas felizes brincando com eles.
Um dos seus brinquedos preferidos era o de fazer a guerra com seus soldadinhos de chumbo. Colocava-os uns de frente para os outros e começava a batalha. Quando os ganhou de presente, se deu conta de que a um deles lhe faltava uma perna por causa de um defeito de fabricação.
Não obstante, enquanto jogava, colocava sempre o soldado mutilado na primeira linha, diante de todos, incentivando-o a ser o mais valente. Mas o menino não sabia que os seus brinquedos durante a noite adquiriam vida e falavam entre eles, e, às vezes, ao colocar ordenadamente os soldados, colocava por descuido o soldadinho mutilado entre os outros brinquedos.
E foi assim que um dia o soldadinho pôde conhecer uma gentil bailarina, também de chumbo. Entre os dois se estabeleceu uma corrente de simpatia e, pouco a pouco, quase sem se dar conta, o soldadinho se apaixonou por ela. 
As noites continuavam rapidamente, uma atrás da outra, e o soldadinho apaixonado não encontrava nunca o momento oportuno para declarar seu amor. Quando o menino o deixava no meio dos outros soldados em uma batalha, torcia para que a bailarina se desse conta do sua coragem pela noite, quando ela lhe perguntava se tinha tido medo, ele lhe respondia com veemência que não.
Mas os olhares insistentes e os suspiros do soldadinho não passaram despercebidos pelo diabinho que estava trancado em uma caixa de surpresas. Cada vez que, por um passe de mágica, a caixa se abria à meia-noite, um dedo ameaçador apontava para o pobre soldadinho.
Finalmente, uma noite, o diabo explodiu:
-Ei, você! Deixe de olhar para a bailarina!
O pobre soldadinho se ruborizou, mas a bailarina, muito gentil, o consolou:
-Não lhe dê ouvidos, é um invejoso. Eu estou muito feliz por falar com você.
E disse isso ruborizando-se.
Pobres estatuazinhas de chumbo, tão tímidas, que não se atrevem a confessar seu mútuo amor!
Mas um dia foram separados, quando o menino colocou o soldadinho no batente de uma janela.
Fique aqui e vigie para que não entre nenhum inimigo, porque mesmo que você seja manco, bem que pode servir para sentinela.
O menino logo colocou os outros soldadinhos em cima de uma mesa para brincar.
Passavam os dias e o soldadinho de chumbo não era deslocado do seu posto de guarda.
Uma tarde começou de repente uma tormenta, e um forte vento sacudiu a janela, batendo na figurinha de chumbo, que se precipitou no chão. Ao cair do batente, com a cabeça para baixo, a baioneta do fuzil se cravou no chão. O vento e a chuva continuavam. Uma tempestade de verdade! A água, que caía a cântaros, logo formou amplas poças e pequenos riachos que escapavam pelo esgoto. Um grupo de garotos esperava que a chuva diminuísse, cobertos na porta de uma escola próxima. Quando a chuva parou, começaram a correr em direção às suas casas, evitando pôr os pés nas poças de lama maiores. Dois garotos se refugiaram das últimas gotas que escorriam dos telhados, caminhando muito próximos às paredes dos edifícios.
Foi assim que viram o soldadinho de chumbo enterrado no chão, encharcado de água.
-Que pena que só tenha uma perna! Se não, eu o levaria para casa - disse um deles.
-Vamos levá-lo assim mesmo, para algo servirá - disse o outro, e o colocou em um dos bolsos.
No outro lado da rua descia um riachinho, que transportava um barquinho de papel que chegou até ali, não se sabe como.
-Colocamo-lo em cima e parecerá um marinheiro! - disse o pequeno que o havia recolhido.
E foi assim que o soldadinho de chumbo se transformou em um navegante. A água vertiginosa do riachinho era engolida pelo esgoto, que acabou engolindo também o barquinho. No canal subterrâneo o nível das águas turvas era alto.
Enormes ratazanas, cujos dentes rangiam, viram como passava diante delas o insólito marinheiro em cima do barquinho afundando. Mas não fazia falta umas míseras ratazanas para assustá-lo, a ele que havia enfrentado tantos e tantos perigos em suas batalhas!
O esgoto desembocava no rio, até que o barquinho chegou ao final e afundou, sem solução, empurrado por redemoinhos turbulentos.
Depois do naufrágio, o soldadinho de chumbo acreditou que seu fim estava próximo, ao submergir-se nas profundezas das águas. Milhares de pensamentos passaram, então, pela sua mente, mas sobretudo, havia um que lhe angustiava mais que nenhum outro: era o de não voltar a ver jamais a sua bailarina...
Logo, uma boca imensa o engoliu para mudar seu destino. O soldadinho se encontrou no escuro estômago de um enorme peixe, que avançou vorazmente sobre ele, atraído pelas cores brilhantes do seu uniforme.
Sem dúvida, o peixe não teve tempo de ter problemas de digestão com uma comida tão pesada, já que em pouco tempo foi preso pela rede que um pescador havia jogado ao rio .
Pouco depois acabou agonizando em uma cesta de compra, junto com outros peixes tão infelizes como ele. Acontece que a cozinheira da casa na qual havia estado o soldadinho chegou ao mercado para comprar peixe.
-Esse exemplar parece apropriado para os convidados desta noite - disse a mulher, contemplando o peixe exposto em cima de um balcão.
O peixe acabou na cozinha, e, quando a cozinheira o abriu para limpá-lo, ficou surpresa com o soldadinho em suas mãos.
-Mas esse é um dos soldadinhos de...! - gritou, e foi em busca do menino para contar-lhe onde e como havia encontrado seu soldadinho de chumbo que estava sem uma perna.
-Sim, é o meu! - exclamou espantado o menino ao reconhecer o soldadinho mutilado que havia perdido.
-Quem sabe como chegou até a barriga deste peixe! Coitadinho, quantas aventuras haverá passado desde que caiu da janela! - e o colocou na estante da chaminé onde sua irmãzinha havia colocado a bailarina.
Um milagre havia reunido de novo os dois apaixonados. Felizes de estar outra vez juntos, durante a noite contavam o que havia acontecido desde a sua separação.
Mas o destino lhes reservava outra surpresa ruim: um vendaval levantou a cortina da janela, e, batendo na bailarina, derrubou-a na lareira.
O soldadinho de chumbo, assustado, viu como sua companheira caía. Sabia que o fogo estava aceso porque notava seu calor. Desesperado, se sentia incapaz de salvá-la.
Que grande inimigo é o fogo, que pode fundir umas estatuazinhas de chumbo como nós! Balançando-se com sua única perna, tratou de mover o pedestal que o sustentava. Depois de muito esforço, acabou finalmente caindo também ao fogo. Juntos dessa vez pela desgraça, voltaram a estar perto um do outro, tão perto que o chumbo de suas pequenas pernas, envolto em chamas, começou a fundir-se.
O chumbo da perna de um se misturou com o do outro, e o metal adquiriu surpreendentemente a forma de um coração.
Seus corpinhos estavam a ponto de fundir-se, quando coincidiu passar por ali o menino. Ao ver as duas estauazinhas entre as chamas, empurrou-as com o pé longe do fogo. Desde então, o soldadinho e a bailarina estiveram sempre juntos, tal como o destino os havia unido: sobre apenas uma perna em forma de coração.