sábado, 30 de abril de 2016

Alice no País das Maravilhas.Capítulo 8 - O jogo de críquete no campo da rainha.

Capítulo 8
O jogo de críquete no campo da rainha.

Uma grande roseira imperava na entrada do jardim: as rosas que nela cresciam eram brancas, mas havia três jardineiros que se ocupavam em pintá-las de vermelho. Alice achou que aquilo era uma coisa estranha e aproximou-se para ver melhor. Justamente na hora que chegou perto deles, ouviu um dos jardineiros dizer:
“Cuidado, Cinco! Não jogue tinta em mim!”
 “Eu não tive culpa”, disse o Cinco em um tom aborrecido. “O Sete empurrou meu cotovelo.”
Nisso o Sete olhou para cima e retrucou:
“Muito bem, Cinco! Sempre colocando a culpa nos outros!”
“É melhor você não falar nada!”, disse o Cinco. “Ontem mesmo eu ouvi a Rainha dizer que você merecia ser decapitado!”
“Por quê?”, disse aquele que tinha falado primeiro.
“Não é de sua conta, Dois!”, disse o Sete.
“É sim, é da conta dele!”, disse o Cinco. “E eu vou dizer pra ele... é porque você levou raízes de tulipa ao invés de cebolas para a cozinheira.”
O Sete jogou o pincel fora, e estava começando a falar “Bem, de todas as injustiças...”, quando seus olhos caíram sobre Alice, que os estava observando. Ele calou-se subitamente: os outros olharam ao redor e todos curvaram-se em respeitosa reverência.
“Vocês poderiam dizer-me, por favor”, disse Alice, um pouco timidamente, “por que estão pintando estas rosas?”
O Cinco e o Sete não disseram nada, mas olharam para o Dois. O Dois começou, em um tom baixo:
“Porque, de fato, você vê, Senhorita, esta deveria ser uma roseira vermelha, e nós plantamos uma roseira branca por engano, e, se a Rainha descobrir, nós todos seremos decapitados, sabe. Portanto, você vê, Senhorita, estamos fazendo o melhor possível, antes que ela chegue para...”
Neste exato momento, o Cinco, que estivera todo o tempo olhando ansiosamente para o jardim, gritou: “A Rainha! A Rainha!” E os três jardineiros atiraram-se instantaneamente de bruços no chão. Havia o som de muitas passadas, e Alice olhava ao redor, doida para ver a Rainha.
Em primeiro lugar chegaram dez soldados carregando clavas: eles eram todos da mesma forma que os jardineiros, retangulares e achatados, com as mãos e os pés saindo dos quatro cantos; depois vinham dez cortesãos, que eram ornamentados com diamantes e caminhavam de dois em dois, como os soldados. Depois desses vinham as crianças reais, dez delas, e as gracinhas iam saltitando alegremente de mãos dadas, em duplas também. A seguir vinham os convidados, a maior parte de Reis e Rainhas, e entre estes Alice reconheceu o Coelho Branco, falando apressadamente de um jeito nervoso, sorrindo para tudo o que era dito. Ele seguiu sem reconhecer Alice. Finalmente vinha o Valete de Copas, que carregava a coroa do Rei sobre uma almofada de veludo escarlate, antecipando o final do grande cortejo, que trazia O REI E A RAINHA DE COPAS.
Alice estava em dúvida se deveria ou não atirar-se ao chão de bruços como os três jardineiros, mas não conseguia se lembrar se já tinha ouvido falar sobre tal regra em cortejos, “e além disso, qual seria a utilidade de um cortejo”, pensou, “se as pessoas ficam de bruços e não podem vê-lo?” Então ela ficou como estava e esperou.
Quando o cortejo passou por Alice, todos pararam e olharam para ela. A Rainha disse, severamente: “Quem é isso?”, dirigindo-se ao Valete de Copas, que apenas curvou-se e sorriu em resposta.
“Idiota!”, disse a Rainha, balançando a cabeça impacientemente, e, dirigindo-se para Alice, prosseguiu: “Qual é o seu nome, criança?”
“Meu nome é Alice, às suas ordens Majestade”, disse Alice bem educadamente, mas acrescentou, para si mesma, “Oras, afinal de contas eles não passam de um baralho de cartas. Eu não preciso ter medo deles!”
“E quem são esses?”, perguntou a Rainha, apontando para os três jardineiros que estavam ainda estendidos ao lado da roseira. Isso porque, vocês sabem, como eles estavam de bruços e a parte de trás do baralho era igual a todo o resto do baralho, ela não poderia dizer se eles eram jardineiros, ou soldados, ou cortesãos ou três das crianças reais.
“Como é que eu poderia saber?”, disse Alice surpreendida por sua coragem. “Não é da minha conta.”
 A Rainha ficou vermelha de raiva e depois de encará-la por um momento como uma fera selvagem, começou a gritar: “Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe...”
“Besteira!”, retrucou Alice, em tom alto e decidido, e a Rainha calou-se.
O Rei pousou sua mão sobre o braço da esposa e disse timidamente:
“Deixe pra lá, minha querida: ela é apenas uma criança!”
A Rainha afastou-se dele com raiva e disse para o Valete:
“Vire-os!”
O Valete os virou, muito delicadamente, com um pé.
“Levantem-se!”, disse a Rainha com uma voz estridente e alta, e os três jardineiros instantaneamente saltaram e começaram a fazer reverências para o Rei, a Rainha, as crianças reais e todo o resto do pessoal.
“Parem com isso”, gritou a Rainha. “Vocês me deixam tonta.” Então, virando-se para a roseira, ela continuou falando: “O que vocês estavam fazendo aqui?”
“Para servir à Sua Majestade”, disse o Dois, humildemente, ficando sobre um joelho enquanto falava, “nós estávamos tentando...”
“Eu entendo!”, disse a Rainha, enquanto examinava as rosas. “Cortem-lhe as cabeças!” e o cortejo prosseguiu, com três dos soldados ficando para trás para executar os desafortunados jardineiros, que correram na direção de Alice em busca de proteção.
“Vocês não serão decapitados!”, disse Alice, colocando-os dentro de um grande jarro de flores que estava por perto. Os três soldados ficaram confusos por um minuto ou dois, procurando por eles e então voltaram para o final do cortejo.
“As cabeças já foram cortadas?”, berrou a Rainha.
“Suas cabeças se foram, para servi-la, Majestade!”, os soldados gritaram em resposta.
“Muito bem!”, gritou a Rainha. “Você sabe jogar críquete?”
Os soldados permaneceram em silêncio e olharam para Alice, pois a pergunta era evidentemente dirigida a ela.
“Sim!”, gritou Alice.
“Então venha”, rugiu a Rainha e Alice juntou-se ao cortejo, doida para saber o que aconteceria a seguir.
“É um...é um belo dia!” disse uma vozinha tímida ao seu lado. Ela estava caminhando bem ao lado do Coelho Branco, que ficava olhando o tempo todo para ela.
“Muito”, disse Alice. “Onde está a Duquesa?”


“Psiu!Psiu!”, disse o Coelho em voz baixa, assustado. Ele olhava ansiosamente por sobre os ombros enquanto falava e então ergueu-se na ponta das patinhas, colocando a boca bem perto dos ouvidos de Alice e cochichou: “Ela foi condenada.”
“A que pena?” perguntou Alice.
“Você disse ‘Que pena!’?”, o Coelho perguntou.
“Não, eu não disse”, retrucou Alice. “Não acho que seja uma pena. Eu disse ‘A que pena?’!”
“Ela deu um murro nos ouvidos da Rainha...”, o Coelho começou a contar. Alice disparou a rir. “Oh, psiu!”, o Coelho murmurou em um tom assustado. “A Rainha irá ouvi-la! Mas você entende, a Duquesa chegou muito tarde e a Rainha falou...”
“Tomem seus lugares!”, gritou a Rainha em uma voz de trovão, e as pessoas começaram a correr em todas as direções, batendo umas nas outras. Entretanto, em um minuto ou dois estavam todos em seus lugares e o jogo começou.
Alice pensou que ela nunca em sua vida vira um campo de críquete tão curioso: ele era todo cheio de saliências e sulcos, as bolas de críquete eram ouriços vivos e os tacos eram flamingos também vivos. Os soldados curvavam-se e colocavam as mãos no chão para fazer os arcos do jogo.
 A principal dificuldade que Alice encontrou no início foi como segurar seu flamingo: ela poderia manter o corpo dele sob seu braço com razoável conforto, com as pernas da ave penduradas. Mas, geralmente quando conseguia esticar o pescoço do flamingo e ia fazê-lo chutar o ouriço com a cabeça, ele virava-se e olhava para Alice com uma expressão tão confusa que ela não conseguia parar de rir. Depois, quando desvirava a cabeça dele e se preparava para começar tudo de novo, era irritante perceber que o ouriço tinha se desenroscado e fugia. Além disso, sempre havia uma saliência ou sulco no caminho em que ela queria mandar o ouriço e os soldados-arcos estavam sempre se levantando e mudando de lugar. Alice logo chegou à conclusão que aquele era realmente um jogo muito difícil.
Os jogadores jogavam todos ao mesmo tempo, sem esperar sua vez, discutindo o tempo todo, brigando pelos ouriços; logo a Rainha estava furiosa e batia com os pés no chão, gritando: “Cortem a cabeça dele!”, ou “Cortem a cabeça dela!” o tempo todo.
Alice começou a sentir-se muito mal: para dizer a verdade, ela ainda não tinha discutido nenhuma vez com a Rainha no jogo mas sabia que poderia acontecer a qualquer minuto, “e então”, ela pensou, “o que irá acontecer comigo? Eles são loucos para cortar as cabeças por aqui. A grande dúvida é como ainda existe alguém vivo!”
Ela estava procurando alguma maneira de escapar, imaginando se daria para fugir sem ser vista quando percebeu uma curiosa aparição no ar: aquilo a confundiu muito no início, mas depois de olhar por um minuto ou dois percebeu que era um sorriso e ela disse para si mesma: “É o Gato de Cheshire: agora eu tenho alguém com quem falar.”
“Como você está se saindo?”, perguntou o Gato, tão logo ele teve boca o suficiente para falar.
Alice esperou até que seus olhos surgissem e então cumprimentou-o com a cabeça.
“Não adianta falar com ele”, ela pensou, “até que suas orelhas apareçam, ao menos uma delas.” Em um minuto toda a cabeça apareceu e então Alice colocou seu flamingo no chão e começou a comentar o jogo, sentindo-se muito feliz por ter alguém para ouvi-la. 

O Gato parecia achar que já havia parte suficiente sua aparente e nada mais surgiu.
“Eu não acho que eles joguem de maneira muito certa”, Alice começou em um tom de queixa, “e discutem de um jeito tão maluco que você não consegue ouvir ninguém falar...e parece que eles não têm nenhuma regra. Finalmente, se têm, ninguém parece respeitar...você não faz ideia de como é confuso jogar com todas essas coisas vivas. Por exemplo, o arco sob o qual deveria passar minha bola mudou-se para o outro lado do campo...e quando eu deveria atingir o ouriço da Rainha agora há pouco, ele saiu correndo ao ver o meu se aproximando!”

“O que é que você acha da Rainha?”, perguntou o Gato em uma voz baixa.
“Nada em especial”, respondeu Alice, “ela é tão extremamente...” Exatamente neste instante ela percebeu que a Rainha estava bem ao seu lado, ouvindo, “...boa nesse jogo que vai ser muito difícil chegar ao final da partida.”
A Rainha sorriu e seguiu em frente.
“Com quem você está falando?”, perguntou o Rei, vindo em direção de Alice e olhando para a cabeça do Gato com muita curiosidade.
“É um amigo meu...o Gato de Cheshire”, respondeu Alice. “Deixe-me apresentá-lo.”
“Eu não gosto do jeito dele”, disse o Rei. “Entretanto ele pode beijar minha mão, se quiser.”
“Eu prefiro não beijar”, o Gato retrucou.
“Não seja impertinente”, disse o Rei, “e não me olhe dessa maneira!”, escondendo-se atrás de Alice enquanto falava.
“Um gato pode olhar para um rei”, disse Alice. “Eu já li isso em algum livro, mas não me recordo qual.”
“Bem, ele tem que retirar-se daí”, disse o Rei decidido, e chamou a Rainha, que passava por ali naquele momento: “Minha querida! Eu gostaria que você mandasse retirar esse gato daqui!”
A Rainha só tinha uma maneira de remover todas as dificuldades, grandes ou pequenas. “Cortem-lhe a cabeça!”, ela ordenou sem nem mesmo olhar para os lados.
“Eu mesmo vou buscar o carrasco”, disse o Rei impacientemente e apressou-se.
Alice pensou que seria melhor voltar e ver como andava a partida, quando ouviu ao longe a voz da Rainha gritando enlouquecidamente. Ela já ouvira por três vezes a sentença de execução para jogadores que tinham perdido sua vez e não estava gostando nada disso, pois com o jogo confuso como estava ela nunca sabia se era sua vez ou não de jogar. Daí, ela saiu procurando seu ouriço.
O ouriço estava engalfinhado com outro ouriço, o que pareceu para Alice uma excelente oportunidade para atirar um contra o outro: a única dificuldade foi que o seu flamingo tinha corrido para o outro canto do campo, onde Alice podia vê-lo tentando, sem grandes resultados, levantar voo até uma árvore.
Quando finalmente ela conseguiu apanhar o flamingo e trazê-lo novamente de volta, a luta entre os ouriços tinha terminado e os dois animais tinham sumido: “Mas isso não importa”, Alice pensou, “pois todos os arcos se foram desse lado do campo.” Então ela novamente colocou o flamingo debaixo do braço para que ele não escapasse novamente, e voltou para conversar um pouquinho mais com seu amigo.
Quando ela voltou para onde estava o Gato de Cheshire, surpreendeu-se com uma multidão ao seu redor: havia uma discussão entre o carrasco, o Rei e a Rainha, todos falando ao mesmo tempo, enquanto o resto permanecia em silêncio, parecendo bastante constrangidos.
No momento em que Alice apareceu, foi chamada pelos três para decidir a questão. Eles repetiram seus argumentos, mas, como todos falavam ao mesmo tempo, ela achou muito difícil entender exatamente o que diziam.
O carrasco argumentava que não se pode cortar uma cabeça ao menos que ela não esteja presa a um corpo. Que ele nunca fizera uma coisa dessas na vida e não seria desta vez que ele começaria.
O Rei argumentava que qualquer coisa que tivesse cabeça poderia ser decapitada, e que aquela conversa era besteira.
A Rainha argumentava que, se alguma coisa não fosse feita rapidamente, ela iria mandar executar todo mundo em volta. (Esta última observação é que deixara o grupo com aquele tom sério e ansioso.)
Alice não encontrou nada melhor para dizer que “Ele pertence à Duquesa: seria melhor perguntar para ela sobre isso.”
“Ela está na prisão”, a Rainha disse ao carrasco. “Vá buscá-la.” E o carrasco saiu disparado como uma flecha.

A cabeça do Gato começou a desaparecer bem no momento em que ele se foi e na hora que o carrasco voltou com a Duquesa já tinha sumido totalmente. O Rei e o carrasco começaram a procurá-lo desesperadamente por todo lado, enquanto o restante do grupo voltou ao jogo.


Parte da resenha do livro:

A própria majestade da rainha ser derivada de um baralho de cartas já reflete uma parte do mundo adulto: a vida é como um jogo, onde se conta com a sorte, se blefa, se mente, se tenta esconder direitos e abusa dos deveres. O rei, os baralhos Dois, Cinco e Sete, o júri e mesmo os flamingos e os porcos-espinhos usados como ferramentas do jogo de croquet são derivados destas metáforas do mundo real.

Se a postura dos adultos é contestada por Alice, o que dizer de seus costumes alienantes? O chá das cinco é uma tradição inglesa secular, e ainda hoje é cultuada no país. Mas durante o reinado da Rainha Vitória, o costume era ainda mais rígido, iniciado religiosamente as cinco da tarde. O Chapeleiro Maluco e o a Lebre de Março são uma dura crítica ao costume.

A parte mais importante do corpo.

Qual será a parte mais importante do corpo? Eis uma questão, com certeza, de difícil solução. Pois, uma mãe muito jovem perguntou a seu filho, um dia, exatamente isso. 
O menino pensou um pouco e se lembrou de como o som é importante para os seres humanos, permitindo a audição da voz humana e dos sons dos animais, do vento, da chuva, da música. Por isso, respondeu: "minhas orelhas", mãe.
"Não, você não acertou. Mas, não se preocupe. Continue pensando no assunto. Em outra oportunidade, volto a lhe perguntar."
Algum tempo se passou até que a mãe tornou a fazer a mesma indagação. O garoto, que desde a sua primeira tentativa de resposta, frustrada, pensara muito no assunto, respondeu logo: "mãe, a visão é muito importante para todos. É ela que nos permite vislumbrar a beleza das cores, o rosto dos nossos amores, as cenas dos filmes, do teatro. Então, a parte mais importante do corpo são os nossos olhos."
"Você está aprendendo rápido", disse a mãe, "mas a resposta ainda não está correta. Pode-se viver sem a visão dos olhos. Pense em quantos cegos existem pelo mundo."
O menino não desistiu e continuou a sua busca pela resposta, ao longo do tempo. Vez ou outra, a mãe voltava à carga e a cada resposta dele, ela frisava: "não, não é esta parte a mais importante. Mas você está ficando mais esperto a cada ano, minha criança."
O tempo passou e um dia, morreu o avô do menino. Todos ficaram tristes. Ele era muito amado. Todos choraram. O jovenzinho viu seu pai chorar. Aquilo o marcou porque era a segunda vez, em sua vida, que via seu pai chorar.
Então, sua mãe olhou para ele, quando ele se aproximou do caixão para, de sua intimidade, dirigir um até logo mais prolongado ao avô.
E ela perguntou: "filho, agora você já sabe qual a parte do corpo mais importante?"
O rapaz ficou chocado. Aquele não era um momento próprio para fazer aquela pergunta. Mesmo porque, desde a infância, ele sempre levara tudo aquilo à conta de um jogo entre ele e sua mãe. Um jogo que ele pensava ganhar um dia, quando descobrisse a resposta correta.
Mas, aquele momento era de muita dor para se pensar em jogo. Ainda confuso, ele ouviu a mãe ponderar: "esta pergunta é muito importante. Mostra como você viveu realmente a sua vida. Para cada parte do corpo que você citou no passado, eu lhe disse que estava errado. Mas hoje é o dia que você necessita aprender esta importante lição."
Ela olhou o filho daquele jeito que somente uma mãe pode fazer. Havia lágrimas em seus olhos, quando falou: "meu querido, a parte do corpo mais importante é seu ombro."
"Por que eles sustentam minha cabeça?"
"Não, filho. É porque pode apoiar a cabeça de um amigo ou de alguém amado quando eles choram."
Todos precisam de um ombro para chorar em algum momento de sua vida, meu querido.
Eu espero que você tenha bastante amor e amigos. E que tenha sempre um ombro disponível se acaso precisarem chorar.
As pessoas poderão esquecer-se do que você disse, depois de algum tempo. Mesmo porque, quase sempre não nos habituamos a escutar com o coração e a memória nos trai.
As pessoas poderão esquecer-se do que você fez, com o passar dos anos. A memória da gratidão costuma empalidecer no decurso dos anos.
Mas as pessoas nunca se esquecerão de como você as fez sentir, da amizade que ofertou, da emoção que proporcionou, da solidão que preencheu, do amor que semeou.

(autor desconhecido)

Tema: amor, amor ao próximo, solidariedade.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Corvo e o Jarro. Linda fábula de Esopo.

Um corvo, que estava sucumbindo de sede, viu lá do alto um jarro, e na esperança de achar água dentro, voou até ele com muita alegria.
Quando lá chegou descobriu, para sua tristeza, que o jarro continha tão pouca água em seu interior, que era impossível alcançá-la com seu curto bico.
Ainda assim, ele tentou de tudo para beber a água que estava dentro do jarro, mas com um bico tão curto, todo seu esforço foi em vão.
Por último, ele pegou tantas pedras quanto podia carregar, e uma a uma, colocou-as dentro da jarra.
Ao fazer isso, logo o nível da água ficou ao alcance do seu bico, e desse modo ele salvou sua vida.

(Fábula de Esopo)

Moral da história: com persistência e esforço tudo se alcança.

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.”


Confúcio.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Os três cabelos de ouro do Diabo.

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm.

Houve, uma vez, uma mulher muito pobre, que deu à luz um menino e, como este nascera com a túnica da sorte, predisseram-lhe que, aos catorze anos se casaria com a filha do rei. Eis que, decorrido pouco tempo, o rei foi àquela aldeia sem que soubessem que era ele; quando perguntou à gente do lugar pelas novidades locais, logo lhe responderam:
- Nasceu, nestes dias, um menino com a túnica da sorte. Quem nasce com essa túnica será muito feliz e, faça o que fizer tudo lhe sairá bem. Predisseram-lhe, ademais, que aos catorze anos se casará com a filha do rei.
Ouvindo isso, o rei, que era de mau coração, ficou indignado, principalmente por causa da profecia. Foi procurar os pais da criança e, demonstrando benevolência que não possuía, disse-lhes:
- Pobre gente dê-me o vosso menino; eu tomarei conta dele.
A princípio, os pais recusaram-se, mas, como o desconhecido lhes oferecia grande soma de dinheiro, pensaram entre si: "É um filho da sorte, como tal, tudo lhe correrá bem." Assim acabaram concordando e deram-lhe o filhinho.
O rei colocou-o dentro de uma caixa; montou a cavalo e pôs-se a caminho. Ao chegar a um rio caudaloso, atirou nele a caixa, murmurando:
-Assim livro minha filha desse pretendente indesejado.
A caixa, porém, não afundou. Ficou flutuando como um barquinho e nem uma só gota de água penetrou dentro dela. Foi vagando uns dois quilômetros, além da capital do Reino, chegando assim a um moinho em cuja roda ficou presa. Por boa sorte, encontrava-se lá, no momento, o ajudante do moleiro que, vendo-a, a puxou para fora com um gancho, pensando encontrar dentro dela algum tesouro. Mas, quando a abriu, encontrou simplesmente um belo menino, risonho e vivaz. Levou-o para o casal de moleiros, os quais, não tendo filhos, alegraram-se muito, dizendo:
-Este é um presente de Deus!
Acolheram o enjeitado, trataram-no com todo o carinho e ele cresceu dotado de grandes virtudes.
Ora, aconteceu que um dia, durante forte tempestade, o rei teve de refugiar-se no moinho; vendo o menino perguntou aos moleiros se era filho deles.
-Não, - responderam, - é um enjeitado que há catorze anos apareceu dentro de uma caixa, a qual ficou presa à roda do moinho, e nosso ajudante retirou-a da água.
O rei, então, concluiu que não podia ser outro senão o filho da sorte, atirado por ele dentro do rio. Dirigindo-se aos moleiros disse:
-Boa gente, não poderia esse menino levar uma carta à Sua Majestade a Rainha? Eu lhe darei como recompensa duas moedas de ouro.
-Será feito o que Vossa Majestade ordena, - responderam os moleiros.
Disseram ao menino que se aprontasse. O rei, então, escreveu à rainha uma carta com a seguinte ordem: "Assim que o rapaz, portador desta carta, chegar aí, quero que o matem e o enterrem; faça-se tudo antes do meu regresso."
O rapaz pôs-se a caminho, levando a carta, mas extraviou-se e, à noite, foi dar a uma grande floresta. Em meio à escuridão, avistou uma luzinha; caminhou em sua direção e chegou a uma pequena casa; viu uma senhora idosa sentada, sozinha junto do fogo. Esta, ao ver o rapaz, assustou-se e perguntou:
-De onde vens? E para onde vais?
-Venho do moinho, - respondeu ele, - e vou levar uma carta a Sua Majestade a Rainha. Mas, tendo perdido o caminho, desejo pernoitar aqui.
-Pobre rapaz, - disse a velha, - vieste cair num covil de bandidos; quando chegarem e te virem, certamente te matarão.
-Venha quem quiser, - respondeu o rapaz, - eu não temo ninguém; estou tão cansado que não posso continuar a viagem.
Deitou-se sobre um banco e logo adormeceu. Não tardou muito chegaram os bandidos e, zangados, perguntaram quem era aquele desconhecido ali deitado.
-Oh, - disse a velha, - é um inocente menino que se perdeu na floresta; recolhi-o por compaixão, pois vai levando uma carta a Sua Majestade a Rainha.
Curiosos, os bandidos abriram a carta para ler o que continha; ao ver que era uma ordem para matar e enterrar o rapaz assim que chegasse ao palácio, aqueles corações empedernidos apiedaram-se dele. O chefe da quadrilha, então, rasgou a carta, escrevendo outra, na qual dizia que o rapaz, logo após a chegada, devia imediatamente casar-se com a princesa. Deixaram-no dormir, sossegadamente, até pela manhã. Quando acordou, deram-lhe a carta e ensinaram-lhe o caminho certo.
Ao receber a carta, a Rainha prontamente executou as ordens. Mandou que se organizasse uma esplêndida festa e a princesa casou com o filho da sorte. Como era um rapaz bonito e afável, sentiu-se alegre e feliz a seu lado.
Transcorrido algum tempo, regressou o rei ao castelo e verificou que se realizara a predição: o filho da sorte casara-se com a princesa sua filha.
-Como pôde acontecer isto? - perguntou; - na minha carta dei ordens completamente diversas.
A Rainha, então, mostrou-lhe a carta recebida para que ele mesmo visse o que dizia. O rei leu-a e percebeu que havia sido trocada. Perguntou ao rapaz o que acontecera e por que trouxera a carta trocada.
-Eu nada sei, - respondeu o rapaz, - talvez tenha sido trocada enquanto dormia lá na floresta.
-Não te sairás tão facilmente desta, - exclamou o rei, encolerizado. - Quem quiser minha filha, terá de trazer-me do inferno os três cabelos de ouro do Diabo; quando me trouxeres o que exijo, então poderás ficar com minha filha.
Com isto, o rei pensava que se livraria, de uma vez por todas, do rapaz. Mas o filho da sorte disse-lhe:
-Está bem, irei ao inferno buscar os cabelos de ouro, pois não tenho medo do Diabo.
Despediu-se de todos e iniciou a longa caminhada. A estrada, por onde seguia, conduziu-o a uma grande cidade cercada de muralhas; chegando à porta, a sentinela perguntou-lhe qual era seu ofício e o que sabia.
-Sei tudo, - respondeu o filho da sorte.
-Dize-nos, então, por favor, por que é que secou o chafariz da praça do mercado, do qual normalmente jorrava vinho e agora nem mais água jorra? - perguntou a sentinela.
-Sabereis quando eu voltar, - respondeu o rapaz.
Continuou andando e chegou à porta de outra grande cidade; aí, também, a sentinela perguntou-lhe qual era o seu ofício e o que sabia.
-Sei tudo, - respondeu ele.
-Dize-nos, então, por favor, por que é que certa árvore de nossa cidade, que sempre produziu maçãs de ouro, agora nem folhas dá mais?
-Sabereis quando eu voltar, - respondeu.
Prosseguiu o caminho. Foi andando até à margem de um rio muito largo, que devia atravessar. O barqueiro perguntou-lhe qual era o seu ofício e o que sabia.
-Sei tudo, - respondeu outra vez.
-Então me dize, por favor, - perguntou o barqueiro, - por que é que devo sempre ir e vir sem nunca ficar livre?
-Saberás quando eu voltar.
Depois de atravessar o rio, encontrou o ingresso do inferno. Tudo lá dentro era negro e cheio de fuligem. O Diabo não estava em casa, estava apenas sua avó, sentada numa grande poltrona.
-Que desejas? - perguntou-lhe. - E não tinha aparência de má.
-Desejo os três cabelos de ouro do Diabo, - respondeu ele; - se não os conseguir, não poderei conservar minha mulher.
-Pedes demasiado! - disse ela. - Se ao chegar, o Diabo te encontrar aqui, ele te esfolara vivo. Mas como tenho pena de ti, verei se posso ajudar-te.
Transformou-o numa formiga e disse-lhe:
-Agora te esconde nas dobras da minha saia, ai estarás seguro.
-Muito bem, - exclamou o rapaz, - mas há também três coisas que gostaria de saber: primeiro, porque é que secou um chafariz do qual costumava jorrar vinho e agora nem mesmo água jorra; segundo, porque é que uma macieira, que sempre dava maçãs de ouro, agora nem folhas mais dá; terceiro, porque é que um barqueiro deve sempre ir e vir sem nunca se livrar.
-Essas são perguntas muito difíceis - respondeu a velha; - mas fica quietinho e calado e presta bem atenção ao que diz o Diabo quando eu lhe arrancar os cabelos de ouro.
Quando anoiteceu, o Diabo voltou para casa. Mal entrou na porta, percebeu no ar algo que não era puro.
-Sinto cheiro, sinto cheiro de carne humana, - resmungou, - há algo estranho aqui!
Revistou todos os cantos, mas não conseguiu encontrar nada. A avó então o repreendeu:
-Agora mesmo acabei de varrer e arrumar a casa; e tu, mal chegas já te pões a fazer desordens; andas sempre com cheiro de carne humana nas narinas! Vamos, senta-te e come o teu jantar!
Quando terminou de comer e beber, o Diabo sentiu cansaço; reclinou a cabeça no regaço da avó, pedindo-lhe que lhe fizesse cafuné. Não demorou muito e ferrou no sono, bufando e roncando tranquilamente. Então a velha pegou um cabelo de ouro, arrancou-o e guardou-o de lado.
-Ai! - gritou o diabo, - que é que estás fazendo?
-Ah, tive um pesadelo, - respondeu a avó, - e sem querer agarrei e puxei teus cabelos.
-O que sonhaste? - perguntou o Diabo.
-Sonhei que um chafariz, do qual sempre jorrava vinho, secou, e nem mais água jorra. Por que será?
-Ah, se o soubessem! - disse o Diabo. Há no chafariz um sapo, debaixo de uma pedra, se o matarem voltará a jorrar vinho.
A avó recomeçou a fazer-lhe cafuné; ele adormeceu de novo, roncando de fazer estremecer os vidros. Ela então lhe arrancou o segundo cabelo.
-Ui! - gritou zangado, - mas, que estás fazendo?
-Não te zangues, - respondeu ela, - fiz isto porque tive um pesadelo.
-E que sonhastes mais? - perguntou o Diabo.
-Sonhei que havia, num reino, uma árvore, a qual primeiro dava maçãs de ouro e agora nem folhas dá mais. Por que será?
-Oh, se o soubessem! - respondeu o Diabo. - Há um rato que lhe está roendo a raiz; se o matarem, voltará a produzir maçãs de ouro, mas se o rato continuar roendo-lhe a raiz, ela secará para sempre. Agora me deixa em paz com teus sonhos; se me interromperes o sono outra vez, levarás uma bofetada.
A avó acalmou-o e voltou a fazer-lhe cafuné, até que ele adormeceu e começou a roncar. Então, agarrou o terceiro cabelo de ouro e arrancou-o. O diabo levantou-se de um pulo, gritando que havia de lhe pagar, mas ela conseguiu acalmá-lo novamente e disse:
-Que culpa tenho de ter maus sonhos?
-Que é que sonhaste ainda? - perguntou com certa curiosidade o Diabo.
-Sonhei que um barqueiro queixava-se de ter sempre de ir e vir, sem nunca se livrar. Por que será?
-Ah, o tolo! - respondeu o Diabo; - quando alguém quiser atravessar o rio, ele que lhe meta nas mãos o varejão, assim o outro ficará sendo o barqueiro e ele estará livre.
Tendo arrancado os três cabelos de ouro e obtido resposta para as três perguntas, a avó deixou o velho Satanás dormir sossegado até à manhã do dia seguinte.
Assim que ele saiu de casa, a velha tirou a formiga das dobras de sua saia, restituindo-lhe o aspecto humano.
Aqui tens os três cabelos de ouro, - disse, - e certamente ouviste as respostas do Diabo às tuas três perguntas.
-Ouvi, sim - disse o rapaz, - e as gravei na memoria.
-Bem, agora não precisas mais nada, - disse a velha; - podes, portanto, seguir teu caminho.
O rapaz agradeceu contentíssimo à velha por tê-lo tirado das dificuldades e deixou o inferno, muito feliz por ter-se saído tão bem.
Quando chegou à margem do rio e encontrou o barqueiro, que aguardava a resposta prometida, disse-lhe:
-Leva-me primeiro para o outro lado; depois eu te direi o que deves fazer para livrar-te.
Tendo atingido a-outra margem, deu-lhe o conselho do Diabo:
-Quando vier alguém e quiser atravessar o rio, dá-lhe o teu varejão e safa-te.
Continuou andando, andando, até chegar à cidade onde estava a macieira estéril; ali também a sentinela aguardava a resposta; disse-lhe então o que ouvira do Diabo:
-Matai o rato que está roendo as raízes da árvore e ela tornará a produzir maçãs de ouro.
A sentinela agradeceu e presenteou-o com dois jumentos carregados de ouro. Por fim, chegou à cidade do chafariz seco. Repetiu à sentinela o que ouvira do Diabo:
-Há um sapo debaixo de uma pedra, no fundo de chafariz; é preciso encontrá-lo e matá-lo para que torne a jorrar vinho em abundância do chafariz.
A sentinela agradeceu e deu-lhe outros dois jumentos carregados de ouro.
Finalmente, o filho da sorte chegou à casa de sua mulher, que ficou radiante por tornar a vê-lo e ouvir contar como tudo lhe correra bem. Depois, foi entregar ao Rei o que este exigira: os três cabelos de ouro do Diabo. Vendo, porém, os quatro jumentos carregados de ouro, o Rei alegrou-se muito e disse:
-Agora estão satisfeitas todas as condições, portanto, podes ficar com minha filha. Mas, dize-me, querido genro de onde provém todo esse ouro? Esse imenso tesouro?
-Atravessei um rio, - respondeu o rapaz, - e encontrei-o na areia na margem.
-Poderei, também, ir buscar um pouco para mim? - perguntou o rei cobiçoso.
-Quando quiseres, - respondeu-lhe ele. - No rio há um barqueiro; pedi-lhe que vos transporte para a outra margem e aí podereis encher quantos sacos desejardes.
Cheio de cobiça, o Rei pôs-se, imediatamente, a caminho; quando chegou ao rio, pediu ao barqueiro que o transportasse para a outra margem. O barqueiro encostou o barco no ancoradouro e mandou que se sentasse. Ao chegar à margem oposta, o barqueiro entregou-lhe o varejão, pulou fora do barco e desapareceu.
E, com isso, o rei teve de ser o barqueiro, em punição de seus pecados.
-E ainda continua lá, indo e vindo feito um barqueiro?
-Como não? Quem mais conhecia a história para o livrar do castigo?

Fonte: http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/os_tres_cabelos_de_ouro_do_diabo 



1. Varejão.

Significado de Varejão.
1- vara comprida usada para movimentar pequenas embarcações em águas rasas.
Ex. - A água estava rasa e foi possível usar o varejão.


Moral da história: o bem sempre vence o mal.

Para fazer em casa:
Distribua os corações impressos e recortados para que as crianças levem para casa e fiquem uma semana observando o bem e o mal nos seus cotidianos, tanto em casa como na escola.


Jeanne Geyer.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A cidade dos resmungos. Linda metáfora.


Extraído de O Livro das virtudes II – O Compasso Moral, William J. Bennett, Editora Nova Fronteira

Era uma vez um lugar chamado Cidade dos Resmungos, onde todos resmungavam, resmungavam, resmungavam. No verão, resmungavam que estava muito quente. No inverno, que estava muito frio. Quando chovia, as crianças choramingavam porque não podiam sair. Quando fazia sol, reclamavam que não tinham o que fazer.


Fonte da imagem: http://www.fotosefotos.com/page/uso_das_imagens 


Os vizinhos queixavam-se uns dos outros, os pais queixavam-se dos filhos, os irmãos das irmãs.
Todos tinham um problema, e todos reclamavam que alguém deveria fazer alguma coisa.
Um dia chegou à cidade um mascate carregando um enorme cesto às costas. Ao perceber toda aquela inquietação e choradeira, pôs o cesto no chão e gritou:
– Ó cidadãos deste belo lugar! Os campos estão abarrotados de trigo, os pomares carregados de frutas. As cordilheiras estão cobertas de florestas espessas, e os vales banhados por rios profundos. Jamais vi um lugar abençoado por tantas conveniências e tamanha abundância. Por que tanta insatisfação? Aproximem-se, e eu lhes mostrarei o caminho para a felicidade.
Ora, a camisa do mascate estava rasgada e puída. Havia remendos nas calças e buracos nos sapatos. As pessoas riram que alguém como ele pudesse mostrar-lhes como ser feliz. Mas enquanto riam, ele puxou uma corda comprida do cesto e a esticou entre os dois postes na praça da cidade.
Então segurando o cesto diante de si, gritou:
– Povo desta cidade! Aqueles que estiverem insatisfeitos escrevam seus problemas num pedaço de papel e ponham dentro deste cesto. Trocarei seus problemas por felicidade!
A multidão se aglomerou ao seu redor. Ninguém hesitou diante da chance de se livrar dos problemas. Todo homem, mulher e criança da vila rabiscou sua queixa num pedaço de papel e jogou no cesto.
Eles observaram o mascate pegar cada problema e pendurá-lo na corda. Quando ele terminou, havia problemas tremulando em cada polegada da corda, de um extremo a outro. Então ele disse:
Agora cada um de vocês deve retirar desta linha mágica o menor problema que puder encontrar.
Todos correram para examinar os problemas. Procuraram, manusearam os pedaços de papel e ponderaram, cada qual tentando escolher o menor problema. Depois de algum tempo a corda estava vazia.
Eis que cada um segurava o mesmíssimo problema que havia colocado no cesto. Cada pessoa havia escolhido os seu próprio problema, julgando ser ele o menor da corda.
Daí por diante, o povo daquela cidade deixou de resmungar o tempo todo. E sempre que alguém sentia o desejo de resmungar ou reclamar, pensava no mascate e na sua corda mágica.



Moral da história: 

todos têm problemas, se compararmos com os problemas dos outros, muitas vezes verificamos que nem deveríamos nos queixar da vida. Deus não dá o fardo maior do que os ombros de cada um.
As dificuldades devem ser encaradas com coragem e determinação, pois são oportunidades de crescimento.

Dinâmica: 

usar o mesmo método do personagem mascate, levar um barbante e segurar em duas pontas formando um varal onde serão fixados os problemas de cada um com prendedores de roupa. A seguir todos os passos da história e no final conversar sobre os resultados.


segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Borboleta Orgulhosa.

A borboletinha era uma beleza, mas achava-se uma beldade. Devia, pelo menos, ser tratada como a rainha das borboletas, para que se sentisse satisfeita. Quanta vaidade, meu Deus!
Não tinha amigos, pois qualquer mariposa que se aproximasse dela era alvo de risinhos e de desprezo.
- Que está fazendo em minha presença, criatura? Não vê que sou mais bela e elegante do que você? costuma ela dizer, fazendo-se de muito importante.
Nem os seus familiares escapavam. Mantinha à distância os seus próprios pais e irmãos, como se ela não houvesse nascido naturalmente, mas tivesse sido enviada diretamente do céu. Tratava-os com enorme frieza, como quem faz um favor, quando não há outro remédio.
- Sim, você é formosa, borboletinha, mas não sabe usar essa qualidade como deveria. Isso vai destruí-la! previniu-a solenemente um sábio do bosque.
A borboletinha não deu muita importância às palavras do sábio. Mas uma leve inquietação aninhou-se em seu coração. Respeitava aquele sábio e temia que ele tivesse razão. Mas logo esqueceu esses pensamentos e continuou sua atitude habitual.
Um dia, a profecia do sábio cumpriu-se. Um rapazinho esperto surpreendeu-a sozinha voando pelo bosque. Achou-a magnífica e com sua rede apoderou-se dela. Como é triste ver a borboletinha vaidosa atravessada por um alfinete, fazendo parte da coleção do rapaz!

Cada um tem aquilo que merece. Não adianta pôr a culpa de nossos erros nos outros, no destino, em Deus ou na má sorte. Cada um é responsável pelo seu próprio sucesso ou fracasso.

A borboletinha era uma beleza, mas achava-se uma beldade. Devia, pelo menos, ser tratada como a rainha das borboletas, para que se sentisse satisfeita. Quanta vaidade, meu Deus!
Não tinha amigos, pois qualquer mariposa que se aproximasse dela era alvo de risinhos e de desprezo.
- Que está fazendo em minha presença, criatura? Não vê que sou mais bela e elegante do que você? costuma ela dizer, fazendo-se de muito importante.
Nem os seus familiares escapavam. Mantinha à distância os seus próprios pais e irmãos, como se ela não houvesse nascido naturalmente, mas tivesse sido enviada diretamente do céu. Tratava-os com enorme frieza, como quem faz um favor, quando não há outro remédio.
- Sim, você é formosa, borboletinha, mas não sabe usar essa qualidade como deveria. Isso vai destruí-la! Preveniu-a solenemente um sábio do bosque.
A borboletinha não deu muita importância às palavras do sábio. Mas uma leve inquietação aninhou-se em seu coração. Respeitava aquele sábio e temia que ele tivesse razão. Mas logo esqueceu esses pensamentos e continuou sua atitude habitual.
Um dia, a profecia do sábio cumpriu-se. Um rapazinho esperto surpreendeu-a sozinha voando pelo bosque. Achou-a magnífica e com sua rede apoderou-se dela. Como é triste ver a borboletinha vaidosa atravessada por um alfinete, fazendo parte da coleção do rapaz!

Autor desconhecido.

Moral da História:


Cada um tem aquilo que merece. Não adianta pôr a culpa de nossos erros nos outros, no destino, em Deus ou na má sorte. Cada um é responsável pelo seu próprio sucesso ou fracasso.

domingo, 24 de abril de 2016

As sapatilhas de Sofia. Historinha com atividades.


As sapatilhas de Sofia, Frederick Lipp.

Era um dia de sol muito brilhante na aldeia, e Sofia não conseguia abrir os olhos naquela luz tão intensa.
Na aldeia faz sempre muito calor, raramente chove, mas, quando isso acontece, a chuva cai, ininterruptamente, dias seguidos.
No ar pairava uma quietude quando, de repente, se ouviu um ruído semelhante ao zumbido de um enxame de abelhas, que aumentava cada vez mais.
O porco começou a grunhir e as galinhas a cacarejarem.
Sofia queria perceber o que se passava e, sentada direita como um pau de vassoura, pôs-se à escuta. "Deve ser o carro do homem dos números", pensou ela enquanto esfregava os olhos.
Uma vez por ano, um homem da cidade chegava à aldeia num carro vermelho. O povo da aldeia dizia que era o homem dos números. O homem contava as pessoas da aldeia a mando do governo. Depois de fazer o seu percurso, o homem parou em frente da casa de Sofia.
— Quantas pessoas vivem aqui? — perguntou.
— Duas — respondeu Sofia, — a minha mãe e eu.
— Vejamos, assim dá um total de 154 pessoas. O ano passado eram…
O homem dos números tinha ouvido dizer que o pai de Sofia morrera porque não havia médico na aldeia e não havia nenhum hospital por perto.
Sofia olhava fixamente para o calçado do homem.
— Ah! Nunca viste umas sapatilhas?
Sofia ficou ruborizada. O segredo, que acalentava há tanto tempo, ocupou-lhe por inteiro o pensamento, que voou para tão longe como os falcões voam em grandes círculos no azul dos céus. No fundo do coração Sofia sentia que, se algum dia tivesse umas sapatilhas iguais às daquele homem, o seu desejo se transformaria em realidade.
— Vamos até à margem do rio? — disse o homem dos números. — Põe os pés nessa lama de barro fino. Agora sai!
Sofia gostou da sensação do barro a escorrer por entre os dedos dos pés. O homem tirou a régua do bolso das calças e mediu as marcas dos pés de Sofia. Enquanto coçava a barba, fazia contas em voz alta e acabou por dizer:
— Vejamos… dentro de trinta dias vais receber um presente.
Sofia contava os dias… Algum tempo depois, o carro dos correios atravessou a aldeia e deixou-lhe na porta de casa um pacote. Depois de sofregamente abrir o pacote, gritou:
— Umas sapatilhas!  Calçou-as com muito cuidado e exclamou:
— Agora, já posso realizar o meu desejo secreto!
— Que desejo? — perguntou a mãe.
— Agora já posso ir à escola, mãe!
— Mas, minha querida, a escola fica a oito quilômetros e o caminho é muito mau!
— Eu sei mãe, mas é que eu agora tenho umas sapatilhas… — respondeu Sofia enquanto saltitava de alegria.
Um sorriso começou a desenhar-se lentamente na boca da mãe de Sofia. Recordou a filha de vestido amarelo, cor do sol, a correr ao lado do pai que, com a pequena lousa preta debaixo do braço, procurava a sombra de um coqueiro. Recordava a filha, de olhar fixo e sem pestanejar, a olhar a lousa onde o pai fazia só rabiscos a que chamava letras: "Este aqui é o teu nome e este é o nome da nossa aldeia", ensinava ele à Sofia.
— Creio que pode ir à escola — disse então a mãe à Sofia.
No dia seguinte, ainda o sol não tinha nascido e já Sofia comia uma tigela de arroz com peixe salgado e se punha a caminho através dos arrozais. As sapatilhas protegiam-na das pedras aguçadas. E corria como se tivesse asas nos pés!
Com um salto atravessou riachos e percorreu uma estrada deserta, onde só passava um carro de longe a longe. Sofia corria e corria, cada vez mais depressa, até que por fim avistou a escola que tinha apenas uma sala de aula.
As sandálias dos alunos estavam, em fila alinhada, junto à porta da entrada. Sofia tirou rapidamente as sapatilhas, colocou-as junto às outras sandálias e entrou descalça na sala de aula.
— O meu nome é Sofia e venho à escola para aprender a ler e a escrever!
Na sala, onde havia só rapazes, começaram logo os risinhos.
— Silêncio! — disse a professora, colocando o dedo sobre os lábios fechados.
— Vem cá, és muito bem-vinda. Diz-me, de onde vens?
— De Andong Kralong.
A professora, apanhada de surpresa, disse em surdina:
— Mas, essa aldeia fica a oito quilômetros daqui!…
— Pois fica senhora professora, mas eu tenho as minhas sapatilhas!
Os rapazes continuavam com as suas risadinhas, tapando a boca com as mãos. Os olhos da Sofia encheram-se de lágrimas.
— Mas, tu és uma rapariga! — sussurrou um dos alunos.
Sofia engoliu toda a raiva que sentia e manteve-se de cabeça erguida e quieta como a serpente antes de atacar a presa. Em breve chegaria o momento da desforra.
Acabada a aula, Sofia calçou as sapatilhas e atou os seus cordões, com um triplo nó. Então, virou-se para os rapazes, olhou-os de frente e disse:
— Já que são tão espertos, venham agarrar-me!
Os rapazes, empurrando-se uns aos outros, logo desataram a correr atrás dela. Em vão.
Na manhã seguinte, Sofia acordou antes do cantar do galo. Sair tão cedo permitiu que fosse a primeira a chegar à escola. Os rapazes iam chegando de sorriso envergonhado… É que ainda não tinham esquecido a derrota, na corrida da véspera. E, a partir daquele dia, Sofia aprendeu muito naquela escola de uma única sala.
Passou um ano. Uma manhã, Sofia estava sentada junto da mãe quando, de repente, se levantou uma nuvem de poeira na encosta. O porco começou a grunhir. As galinhas a cacarejarem. Era o homem dos números que voltava no seu carro vermelho.
Nesse momento, as primeiras gotas de chuva começaram a formar pequenos círculos na superfície da água do rio, círculos que se alargavam cada vez mais. Começava a monção. Sofia olhou as nuvens que se formavam e pensou que, agora, iria ter menos calor a caminho da escola.
O homem dos números contou as pessoas da aldeia e, ao fim do dia, chegou à casa de Sofia. E olhou para os pés nus da menina.
— Onde estão as tuas sapatilhas? — perguntou.
Sofia sorriu e, com ar de desafio e mãos na cintura, disse:
— Só calço as minhas sapatilhas para ir à escola.
E os dois começaram a rir.
— Hoje, eu quero mostrar-lhe uma coisa — disse Sofia. — Venha comigo, por favor.
Caminharam juntos e em silêncio, até à margem do rio. Chegados aí, Sofia, de cabeça baixa, disse timidamente:
— Um dia, quero construir uma escola na minha aldeia, e…
— O quê?
— Também quero ser professora — afirmou Sofia.
Pegou numa cana de bambu e agarrando-a com as duas mãos, escreveu na lama de argila:
Muito obrigada pelas sapatilhas.
Agora, já sei ler e escrever.
E fez-se um tal silêncio que se podia ouvir o borbulhar da água a correr por entre os seixos.

Moral da história: 
muitas vezes precisamos apenas de um estímulo para realizar nossos sonhos. Sofia acreditou tanto que com sapatilhas conseguiria ir à escola, que quando ganhou realizou seu sonho.

Perguntas:

- Você acha que Sofia vai mesmo conseguir construir uma escola em sua aldeia? Por quê?
- Será que ela vai ser uma professora também como deseja? Ela mostrou determinação suficiente para conseguir tudo o que quer?
- E você, tem algum sonho?
- Como você espera realizar esse sonho? Você precisa de alguma sapatilha – estímulo-, situação favorável para realizar o seu sonho?

Dinâmica:

Distribuir as crianças em grupo. Deverão conversar sobre as perguntas:

Os sonhos são importantes? Por quê?

Sem sonhar e lutar pelos seus sonhos é possível ter progresso na sociedade?

Cite exemplos que você conhece de pessoas que atingiram os seus sonhos e como fizeram para conseguir.

Após o tempo estipulado, o líder fará um resumo das conclusões do grupo.
Todos os grupos apresentarão aos demais seu trabalho.
A seguir o orientador junto com as crianças, irá apontar os resultados em comum, e finalizar a conclusão sobre a história:


Se não fossem os sonhos dos grandes inventores, e mesmo de cada um de nós que lutou para realiza-los, o progresso não teria acontecido.