segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O Rato e a Rã. Lindo conto de Esopo.

Um Rato desejava atravessar um rio, mas o temia, pois não sabia nadar. Pediu ajuda a uma Rã que concordou desde que o Rato fosse amarrado a uma das patas. O Rato consentiu e encontrando um pedaço de fio, ligou uma de suas pernas à Rã. Assim que entraram no rio, porém, a Rã mergulhou, levando junto o Rato que sentia afogar-se. Por isso debatia-se com a Rã que, por sua vez, lutava para nadar; tudo isso causando muito cansaço e estardalhaços. Estavam nessa luta quando, por cima passava um Falcão que, percebendo o Rato sobre a água, baixou sobre ele e levou-o nas garras juntamente com a Rã que estava atada. Ainda no ar, os devorou.



Moral da História:

Só podemos melhorar e dar certo com acordos que sejam em benefício de todos, senão acontece como na história, a rã e o sapo não se acertaram e com isso acabaram devorados pelo Falcão.


Esopo - Domínio Público.


Para pintar:




Outras atividades:

Recontar a história de modo que o sapo e a rã entrem em um acordo bom para os dois para atravessar o rio.

Utilizar recortes dos personagem em cartolina para serem pintados e depois colocar em papel pardo com o fundo da história desenhado e pintado.

Origamis dos personagens ou massinha de modelar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Irmãos Grimm - A protegida de Maria.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/maria-santa-virgem-nossa-senhora-1004109/

Na orla de uma extensa floresta morava um lenhador e sua esposa. Eles tinham apenas uma filha, que era uma menina de três anos. Mas eles eram tão pobres que não tinham mais o pão de cada dia e já não sabiam o que haveriam de dar-lhe para comer. Certa manhã o lenhador foi com grande preocupação até a floresta para cuidar de seu trabalho e, quando estava cortando lenha, lá apareceu de repente uma mulher alta e bela que trazia na cabeça uma coroa de estrelas cintilantes e lhe disse “Sou a Virgem Maria, mãe do Menino Jesus, e tu és pobre e necessitado: traga-me tua filha, vou levá-la comigo, ser sua mãe e cuidar dela.” O lenhador obedeceu, foi buscar a filha e entregou-a à Virgem Maria, que a levou consigo para o Céu. Lá a menina passava muito bem, comia pão doce e bebia leite açucarado, e seus vestidos eram de ouro, e os anjinhos brincavam com ela. Quando completou quatorze anos, a Virgem Maria a chamou e disse “Querida menina, partirei em uma longa viagem; tome sob tua guarda as chaves das treze portas do reino celestial; tu poderás abrir doze delas e contemplar os esplendores que há lá dentro, mas a décima terceira, cuja chave é esta pequena aqui, está proibida para ti: cuidado para não abri-la, pois seria a tua infelicidade.” A menina prometeu ser obediente e, quando a Virgem Maria havia partido, começou a olhar os cômodos do reino celestial: a cada dia abria um deles, até que todos os doze tinham sido vistos. Em cada um dos cômodos estava sentado um apóstolo cercado de grande esplendor, e toda aquela suntuosidade e magnificência dava grande alegria a ela, e os anjinhos, que sempre a acompanhavam, alegravam-se também. Até que, então, faltava apenas a porta proibida, e ela sentiu um grande desejo de saber o que estava escondido atrás dela. Por isso disse aos anjinhos “Não abrirei a porta por inteiro e também não entrarei, mas vou entreabri-la para olharmos um pouquinho pela fresta”.
“Oh, não,” disseram os anjinhos, “seria um pecado: a Virgem Maria proibiu fazer isso, além do mais, isso poderia facilmente trazer-te a desgraça.” Então ela se calou, mas o desejo não silenciou em seu coração, mas, ao contrário, continuou roendo e corroendo-a com força, não lhe permitindo ficar em paz. E certa vez, quando os anjinhos haviam todos saído, pensou “Agora estou totalmente sozinha e poderia olhar lá dentro, afinal, ninguém ficará sabendo o que fiz”. Procurou a chave e, tão logo a apanhou, enfiou-a na fechadura e, uma vez ela estando lá, sem pensar duas vezes, girou-a. A porta abriu de um salto e ela viu a Trindade sentada em meio ao fogo e à luz. Ficou parada um momento, observando tudo com assombro, depois tocou de leve com o dedo aquela luz, e o dedo ficou totalmente dourado. No mesmo instante foi tomada de intenso pavor, bateu a porta com força e correu dali. Mas o pavor não diminuía, ela podia fazer o que fosse, mas o coração continuava batendo acelerado e não havia como acalmá-lo: assim também o ouro continuou no dedo e não saía de jeito algum, não importa o quanto lavasse e esfregasse.
Não passou muito tempo e a Virgem Maria retornou de sua viagem. Ela chamou a menina e solicitou as chaves de volta. Quando ela apresentou o molho, a Virgem olhou em seus olhos e perguntou: “E não abriste mesmo a décima terceira porta?” “Não”, respondeu. Então ela pousou a mão sobre o coração da menina e sentiu como ele estava batendo sobressaltado, de modo que percebeu que sua ordem tinha sido desobedecida e a porta fora aberta.
Então perguntou mais uma vez: “Realmente não a abriste?” “Não”, respondeu a menina pela segunda vez. Aí a Virgem avistou o dedo que ficara dourado pelo toque do fogo celestial e teve certeza de que ela pecara, e perguntou pela terceira vez: “Não a abriste?” “Não”, respondeu a menina pela terceira vez.
Então a Virgem Maria disse: “Tu não me obedeceste e, além disso, ainda mentiste, portanto não és mais digna de permanecer no Céu.”
Nesse momento a menina caiu em profundo sono e quando despertou jazia lá embaixo sobre a terra em meio a um lugar agreste. Quis gritar, mas não conseguiu emitir qualquer som. Levantou-se de um salto e quis fugir, mas para onde quer que se dirigisse sempre era detida por sebes espinhosas que não conseguia atravessar. Nesse ermo em que estava encerrada havia uma velha árvore oca que agora teria de ser sua morada. Era lá para dentro que rastejava quando caía a noite, e era lá que dormia, e, quando vinham chuvas e tempestades, era lá que buscava abrigo. Levava uma vida lastimável, e quando recordava como tudo havia sido tão bom no Céu, e como os anjinhos costumavam brincar com ela, chorava amargamente. Raízes e frutas silvestres eram seus únicos alimentos, e ela os procurava ao redor até onde podia ir. No outono juntava as nozes e folhas que haviam caído no chão e levava-as para o oco da árvore; comia as nozes no inverno e, quando chegavam à neve e o gelo, arrastava-se como um animalzinho para debaixo das folhas para não sentir frio.
Não demorou muito e suas vestimentas começaram a se rasgar e um pedaço após outro foi caindo do corpo. Tão logo o Sol voltava a brilhar trazendo o calor, ela saía e sentava-se diante da árvore e seus longos cabelos encobriam-na de todos os lados como um manto. Assim foi passando ano após ano e ela ia experimentando a miséria e sofrimento do mundo.
Uma vez, quando as árvores tinham acabado de cobrir-se outra vez de verde, o rei que lá reinava estava caçando na floresta e perseguia uma corça, e como esta havia se refugiado nos arbustos que rodeavam a clareira da floresta, ele desceu do cavalo e com sua espada foi arrancando o mato e abrindo caminho para poder passar. Quando finalmente chegou do outro lado, avistou sob a árvore uma donzela de maravilhosa beleza que lá estava sentada totalmente coberta até os dedos dos pés pelos seus cabelos dourados. Ficou parado admirando-a com assombro até que finalmente dirigiu-lhe a palavra e disse: “Quem és tu? Por que estás aqui no ermo?” Mas ela não respondeu, pois sua boca estava selada. O rei falou novamente: “Queres vir comigo até meu castelo?” Ela apenas assentiu levemente com a cabeça. Então o rei a tomou nos braços, carregou-a até seu corcel e cavalgou com ela para casa, e, quando chegou ao castelo real, ordenou que a vestissem com belos trajes e tudo lhe foi dado em abundância. Embora não pudesse falar, ela era afável e bela, e assim ele começou a amá-la do fundo de seu coração e, não demorou muito, casou-se com ela.
Quando se havia passado cerca de um ano, a rainha deu à luz um filho.
Nessa mesma noite, quando estava deitada sozinha em seu leito, apareceu-lhe a Virgem Maria, que disse “Se quiseres dizer a verdade e confessar que abriste a porta proibida, destravarei tua boca e devolverei tua fala, mas se insistires no pecado e teimares em negar levarei comigo teu filho recém-nascido.” Nesse momento foi dado à rainha responder, porém ela manteve-se obstinada e disse:
“Não, não abri a porta proibida”, e a Virgem Maria tomou-lhe o filho recém-nascido dos braços e desapareceu com ele. Na manhã seguinte, quando não foi possível encontrar a criança, começou a correr um murmúrio no meio do povo de que a rainha comia carne humana e teria matado seu próprio filho. Ela ouvia tudo isso e não podia dizer nada em contrário, mas o rei recusou-se a acreditar
naquilo porque a amava muito.
Depois de um ano nasceu mais um filho da rainha. Naquela noite voltou a parecer a Virgem Maria junto dela dizendo: “Se quiseres confessar que abriste a porta proibida, devolverei teu filho e soltarei tua língua; mas se insistires no pecado e negares, levarei também este recém-nascido comigo.” Então a rainha disse novamente: “Não, não abri a porta proibida”, e a Virgem tomou-lhe a
criança dos braços e levou-a consigo para o Céu. De manhã, quando mais uma vez uma criança havia desaparecido, o povo afirmou em voz bem alta que a rainha a tinha devorado, e os conselheiros do rei exigiram que ela fosse levada a julgamento. Mas o rei a amava tanto que não quis acreditar em nada, e ordenou aos conselheiros que, se não estivessem dispostos a sofrer castigos corporais ou mesmo a pena de morte, que deixassem de insistir no assunto.
No ano seguinte a rainha deu à luz uma linda filhinha e, pela terceira vez, apareceu à noite a Virgem Maria e disse: “Acompanha-me”. Tomou-a pela mão e conduziu-a até o Céu, mostrando-lhe então os dois meninos mais velhos, que riam e brincavam com o globo terrestre. A rainha alegrou-se com aquilo e a Virgem Maria disse: “Teu coração ainda não se abrandou? Se confessares que abriste a porta proibida devolverei teus dois filhinhos.” Mas a rainha respondeu pela terceira vez “Não, não abri a porta proibida”. Então a Virgem Maria a fez descer novamente à terra, tomando-lhe também a terceira criança.

Na manhã seguinte, quando a notícia correu, todo o povo gritava “a rainha come gente, ela tem que ser condenada”, e o rei não conseguiu mais conter seus conselheiros. Ela foi submetida a julgamento e, como não podia responder e se defender, foi condenada a morrer na fogueira. Quando haviam juntado a lenha e ela estava amarrada a um pilar e o fogo começava a arder a sua volta, então se derreteu o duro gelo do orgulho e seu coração encheu-se de arrependimento e ela pensou: “Ah, se antes de morrer eu ao menos pudesse confessar que abri a porta”. Nesse momento voltou-lhe a voz e ela gritou com força “Sim, Maria, eu a abri!” No mesmo instante uma chuva começou a cair do céu apagando as chamas do fogo, e sobre sua cabeça irradiou uma luz, e a Virgem Maria desceu tendo os dois meninos, um de cada lado, e carregando a menina recém-nascida no colo. Ela falou-lhe com bondade: “Quem confessa e se arrepende de seu pecado, sempre é perdoado”, e entregou-lhe as três crianças, soltou-lhe a língua e deu-lhe de presente a felicidade para a vida inteira.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Dom Quixote.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/est%C3%A1tua-de-dom-quixote-c%C3%A9u-cuba-677914/

Adelina Lopes Vieira

Paulo tinha seis anos incompletos;
tinha só quatro o louro e gentil Mário.
Foram à biblioteca, sorrateiros,
e ficaram instantes, mudos, quietos,
a espreitar se alguém vinha; então, ligeiros
como o vento, correram p'ra o armário,
que encerrava os volumes cobiçados:
eram dois grandes livros encarnados,
cheios de formosíssimas gravuras,
mas pesados, meu Deus!
0s pequeninos
porfiavam, cansados, vermelhitos,
por tirá-los da estante. Que torturas!
'Stavam tão apertados, os malditos!
Enfim, venceram não sem ter lutado...
Paulo entalou um dedo, o irmãozinho,
ao desprender os livros, coitadinho!
cambaleou, e foi cair... sentado.
Não choraram: beijaram-se contentes
e Paulo disse a Mário: Que bellote!
vamos ver à vontade o D. Quixote,
sem os ralhos ouvir, impertinentes,
da avó, que adormeceu. Oh! que ventura!
Mário, tu não te mexas, fica atento:
eu vou mostrar-te estampas bem pintadas
com uma condição: cada figura
há de trazer ao nosso pensamento
uma dessas partidas engraçadas,
que eu sei fazer. Serve-te assim?
— 'Stá dito.
Oh! que homenzinho magro! Que esquisito!
Quem é?
— É D. Quixote.
— o barrigudo
é dona Sancha, que a mamãe me disse.
— Dona Sancha é mulher. Oh! que tolice!
O nome que ele tem, bobo, é Pançudo.
— Que está fazendo o padre na cadeira,
a entregar tanto livro à rapariga?
— São livros maus, que vão para a fogueira.
— Quais são os livros maus?
— Não sei, mas penso
que devem ser os que não têm dourados
nem pinturas. Por mais que o papai diga
que o livro é sempre bom, não me convenço.
— Ouves? Chamam por ti, fomos pilhados!
— Meu Deus, como há de ser? Mário, depressa,
vamos arrumar isto; assim.
— Não cessa
De chamar-nos a avó!
— Pronto.
— Inda faltam
três livros.
— Já não cabem.
— Que canseira!
— Têm figuras?
— Não têm.
— Capas bonitas?
— Também não têm.
— Então são maus e saltam
pela janela: atira-os à fogueira.
Eram Sêneca, Eurico e Os jesuítas.
Escaparam do fogo os condenados,
ficando um tanto ou quanto amarrotados.
Salvou-os o papai, mas impiedoso,
fechou a biblioteca, e rigoroso
condenou os dois réus, feroz juiz!

A soletrar... os Contos Infantis.

Domínio Público.

domingo, 23 de outubro de 2016

PETER PAN A HISTÓRIA DO MENINO QUE NÃO QUERIA CRESCER. Parte 7. A Lagoa das Sereias.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/sereia-fantasia-recados-p%C3%A1gina-1301877/

Na terceira noite tia Nastácia apareceu na sala ainda mais desapontada do que na véspera. O que estava acontecendo com a sua pobre sombra era simplesmente monstruoso.
— Veja Sinhá — disse ela paxá Dona Benta, colocando-se entre a parede e o lampião de modo a tornar a sombra bem visível.
— Veja Sinhá, como está toda rendada a minha sombra. O ladrão, que ontem me cortou a cabeça dela e um pedaço do ombro, acaba hoje de cortar uma porção de outros pedacinhos.
Realmente assim era. O resto da sombra da pobre negra estava todo picado de buracos feitos à tesoura.
— É um mistério que não consigo decifrar — disse Dona Benta sacudindo a. cabeça. — O Visconde, o nosso grande detetive, bem que podia tomar conta deste caso. Fale com ele.
Tia Nastácia conferenciou com o Visconde, obtendo do grande detetive a promessa de "investigar."
— Deixe a coisa comigo — disse ele. — Já resolvi aquele célebre caso do falso gato Félix e posso muito bem resolver este do ladrão de sombras. Deixe a coisa comigo.
Liquidado o incidente, Dona Benta retomou a história de Peter Pan no ponto em que a tinha deixado na véspera.
— Onde estávamos mesmo? — perguntou ao sentar-se em sua cadeira de pernas serradas.
— Os meninos perdidos haviam construído a casinha de Wendy e todos dormiram dentro dela, menos Peter Pan, que ficou de guarda — lembrou Narizinho.
— Sim, é isso mesmo — confirmou Dona Benta. —
Dormiram na casinha a primeira noite e depois outras.
Durante toda uma semana os meninos não se afastaram dali. Estavam encantados com a mãezinha que Peter Pan lhes arranjara e Wendy estava igualmente encantada com os seus seis filhos. A felicidade naquele acampamento seria completa, se não fosse a tristeza em que havia caído a fada Sininho. Vivia sempre emburrada, escondida pelos cantos, sem coragem de falar com Peter Pan.
Mas tudo cansa. Ao fim da primeira semana. Wendy mostrou vontade de sair a passeio pela floresta, ou algum outro lugar.
— "Podemos ir à Lagoa das Sereias" — propôs Peter Pan.
— "A nossa Terra do Nunca não possui unicamente coisas terríveis, como os piratas e os lobos famintos. Esse Lago das Sereias é lindo, lindo!"
A ideia foi recebida com entusiasmo. Wendy e seus irmãozinhos só conheciam as sereias dos livros de figura.
Sereias de verdade, com cauda de peixe e escamas, bem vivas e perigosas, nunca haviam visto nenhuma, por não serem criaturas encontráveis no jardim zoológico de Londres. Havia lá de tudo — hipopótamos, rinocerontes, leões, tigres, girafas, serpentes, ursos, focas — mas sereia, nenhuma.
— "Vamos, vamos ver as sereias!" — gritaram todos no maior assanhamento.
Num minuto fizeram-se os necessários preparativos e lá se foram todos. Depois de longa viagem avistaram o grande lago verde-mar, em cujo fundo se erguia o palácio encantado das sereias. Às vezes todas elas vinham à tona para se pentearem ao sol, espalhadas pelos rochedos. Outras vezes só se via por ali uma ou outra.
Quando os meninos chegaram à beira d’água, só encontraram uma.
— "Que beleza!" — exclamou Wendy, enlevada. — "Tal qual uma que vem pintada no meu livro de capa azul.
Vejam como as escamas brilham ao sol! Parecem de prata..."
Era na verdade uma das mais lindas sereias do bando.
Tinha os cabelos cor de ouro e bronze misturados, com reflexos verdes. Estava reclinada sobre um rochedo e enquanto cantava corria um pente de ouro pelos cabelos maravilhosos.
— E era lindo esse canto? — indagou Narizinho.
— Oh, nem queira saber! — disse Dona Benta. Ninguém pode dar ideia da beleza do canto das sereias. Só ouvindo.
Tão diferente do canto das criaturas humanas que é até perigoso para nós. Grandes desgraças têm acontecido no mar aos marinheiros que ouviram tais cantos.
— É verdade, vovó, que os marinheiros antigamente entupiam os ouvidos com chumaços de algodão sempre que avistavam uma sereia? — perguntou Pedrinho.
— Deve ser. Não fazendo isso, esse canto maravilhoso deixa os marinheiros embriagados e eles erram todas as manobras do navio, puxam esta corda em vez daquela, botam garrafas de vinho no anzol em vez de iscas — atrapalham tudo, tudo. Resultado: o navio perde o rumo, dá com o bico numa pedra e afunda.
Os meninos perdidos tinham muita vontade de apanhar uma sereia viva, coisa quase impossível por serem espertas demais. Não há lambari arisco que tenha a ligeireza duma sereia. Eles já haviam tentado várias vezes e agora iam tentar novamente.
— Como?
— O meio era um só — meterem-se n’água de jeito que a sereia não os visse e fecharem o cerco. Assim fizeram.
Meteram-se todos n’água e foram nadando sem fazer o menor barulhinho, até que...
— Pegaram? — indagou Narizinho, ansiosa.
— Pegaram nada! A sereia os percebeu e soltou um grito agudo: Mortais! Mergulhando em seguida.
Ficaram todos desapontadíssimos e Miguel chegou a fazer cara de choro. Se não chorou de verdade foi porque Bicudo avistou outra sereia numa rocha mais adiante.
— "Lá está uma sereia-menina, das fáceis de pegar!" — cochichou ele, apontando. — "Temos que ir com muitas cautelas."
Era uma sereiazinha das mais lindas que a gente possa imaginar. Teria aí seus sete anos de idade, já sabia pentear-se com o seu pentinho de ouro e já começava a cantar as primeiras cantigas. Tão distraída estava a seguir os movimentos dum caranguejo na pedra, que deixou os meninos se aproximarem até bem perto. Miguel, que vinha na frente, não se conteve e — zás! — deu um pulo em cima dela.
— Pegou? — quis saber Narizinho, ansiosíssima.
— Desta vez pegou — respondeu Dona Benta — mas não a segurou bem. As sereias são as criaturas mais lisas que existem, dez vezes mais que o sabão, de modo que a sereiazinha escorregou das unhas de Miguel e lá se foi para o fundo, tal qual a primeira.
— Que pena vovó! — exclamou Narizinho. — Todas as histórias de sereias acabam sempre assim. Quando chega a hora de agarrar uma, acontece isto ou aquilo e elas escapam...
— Hei de fazer uma história diferente — declarou Emília. Uma história onde todas as sereias sejam agarradas e amarradas e trazidas para a cidade dentro dum caminhão.
— Pois você errará Emília, se escrever uma história assim — disse Dona Benta. — Além de ser uma judiação arrancar do seu elemento criaturas tão lindas, essa pesca e essa trazida para a cidade em caminhão viria destruir a beleza e o mistério das sereias. Sabe o que acontecia? Os jornais davam o retrato delas impresso em tinta preta (nos livros elas aparecem em lindas pinturas de cores macias); os sábios de óculos vinham estudá-las, isto é, abri-las com as suas facas chamadas bisturis para ver o que tinham dentro, e mil outros horrores. Não, Emília. É melhor que ninguém nunca pegue uma sereia — nem você tampouco.
Na sua historinha, agarre a sereia, mas faça que ela escape no momento de entrar para o caminhão. Ficará muito mais poética a sua historinha, eu garanto.
— Credo! Disse tia Nastácia. — Os homens são tão malvados que até eram capazes de picar as coitadas em pedaços, para vender nos açougues lombo de sereia, entrecosto de sereia, rabo de sereia, miolo de sereia...
— Continue vovó — pediu Pedrinho. — A sereiazinha escapou e...
— E sumiu-se no fundo d’água, indo avisar as outras, de modo que naquele dia não houve mais sereias na superfície do lago.
— E os meninos voltaram para a casinha de Wendy...
— Não. Em vez de sereia apareceu ao longe um bote.
Os piratas do Capitão Gancho, que haviam ancorado o seu navio a uns dez ou doze quilômetros daquele ponto, lá vinham vindo de bote para o lado dos pegadores de sereias.
Como fosse grande o perigo, a meninada tratou de voltar para a praia quanto antes. O meio era um só — nadar, e lançaram-se à água e nadaram para terra sem sequer volver os olhos para trás. Só Peter Pan se animou a fazer isso. Olhou e viu que Pantera Branca, a chefa dos índios Peles-Vermelhas, vinha de pé à proa do bote, amarrada com cordas.
Peter Pan franziu a testa. Fazia assim sempre que tinha de resolver um problema urgente. Parece que com o tal franzimento de testa ele espremia o cérebro para que espirrasse alguma boa ideia. — "Já sei" — murmurou para si mesmo logo depois. — "Os terríveis piratas derrotaram os índios e aprisionaram Pantera Branca, e agora vão abandoná-la num rochedo para que morra afogada pela
maré."
Peter Pan tinha adivinhado. O bote dirigia-se para o rochedo onde estivera a sereia grande, com ordem do Capitão Gancho para largar lá a índia, bem amarrada com grossas cordas.
"Mas isso não pode ser!" — pensou consigo Peter Pan.
"Preciso salvar a pobre criatura, custe o que custar. Pantera Branca é nossa aliada e nossa amiga." — Franziu de novo a
testa e imediatamente espirrou de dentro do seu cérebro outra ideia muito boa.
— Qual foi? — quis saber Pedrinho.


Você quer saber a ideia de Peter Pan? Vamos aguardar o próximo episódio.

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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O MIUDINHO.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=189406&picture=principe-e-princesa

Em companhia de vários fidalgos, d. Bias, poderoso príncipe, herdeiro do importante reino de Avalão, foi uma vez à caça embrenhando-se numa imensa e intrincada floresta, que havia às portas da cidade. Não conhecendo o caminho, sua alteza, tendo se afastado de sua comitiva, perdeu-se no mato, e não houve meio de poder dali sair.
Depois de andar léguas e léguas, chegou extenuado, a uma caverna aberta numa grande montanha. Residia aí uma família de gigantes, composta de pai, mãe e filha.
O gigante, que se chamava Ragarrão, estava fazendo lenha para o jantar.
Arrancava facilmente com uma só mão, velhas árvores, que nem vinte juntas de bois poderiam sequer balançar.
Ragarrão, avistando o príncipe, que lhe pareceu um anãozinho, comparado com ele, por não lhe chegar nem até os joelhos, exclamou:
– Oh! Que homem tão miudinho! Que queres aqui, anão?
O príncipe contou-lhe a sua história; e Ragarrão disse:
– Bem, visto isso, ficarás aqui, como meu criado. E ficou chamando d. Bias de Miudinho.
Passado algum tempo, a filha do gigante, Clandira, apaixonou-se por d. Bias, e d. Bias por ela.
Ragarrão, desconfiando da coisa, chamou o príncipe, e disse-lhe:
– Contaram-me que tu te gabavas de ser capaz de edificar, em uma só noite, um palácio para mim e minha filha. Se tal não fizeres, amanhã, pela manhã, matar-te-ei.
O príncipe ficou desesperado; e chorava amargamente quando apareceu Clandira que lhe falou:
– Não te desesperes, meu querido príncipe. Amanhã, pela manhã, o palácio estará feito.
Assim foi, porque Clandira era encantada.
Quando Ragarrão viu aquela obra, não pôs dúvida que houvesse sido feita pela filha, e disse à mulher:
– Amanhã matarei Miudinho, antes que ele queira casar com minha filha.
Clandira ouviu a conversa. Foi ao quarto de Miudinho, fê-lo levantar-se; e, roubando da estrebaria um cavalo, que, de cada passada, caminhava sete léguas, fugiu com ele.
Pela manhã, Ragarrão, dando por falta de Miudinho e da filha, calçou as botas de sete léguas que haviam pertencido ao célebre Pequeno Polegar, e saiu atrás dos fugitivos.
Quando os ia alcançando, Clandira transformou-se num regato; Miudinho, num preto velho; o cavalo, numa árvore; o selim em laranjas, e a espingarda que levavam, num beija-flor.
Ragarrão, chegando perto, perguntou ao negro:
– Você viu passar aqui um moço e uma moça, montados a cavalo?
O africano riu-se estupidamente, e fez um gesto, dando a entender que era surdo.
Ao mesmo tempo o beija-flor voou em direção ao gigante, e quis furar-lhe os olhos.
Ragarrão, aborrecido, voltou para casa, e narrou à mulher o que lhe havia sucedido.
– Ó palerma! Bradou ela. Pois não sabes que o negro era Miudinho; o regato, nossa filha; a árvore e as laranjas, o cavalo e o selim; e o beija-flor, a espingarda. Volta de novo, e agarra-os.
Nesse entretanto, os fugitivos desencantaram-se, e partiram a todo galope.
Ragarrão, porém, saiu-lhes outra vez ao encalço; e ia encontrá-los, quando se transformaram – a moça, numa igreja; Miudinho, em padre; o cavalo e o selim, no sino e no badalo; e a espingarda no missal.
O gigante entrou na igreja, e interrogou o cura:
– Vossa Reverendíssima não viu passar por aqui um moço e uma moça montados a cavalo?
O padre, que estava dizendo missa, não respondeu e começou a rezar.
Ao cabo de muito tempo, Ragarrão, aborreceu-se, e retrocedeu.
– Oh tolo! Disse a mulher, quando ouviu o que de novo lhe sucedera. Volta para trás. O padre é Miudinho; a igreja, Clandira; o sino e o badalo, o cavalo; e o missal, a espingarda.
O gigante voltou furioso, fazendo vinte léguas por segundo. Avistou finalmente os fugitivos; mas, quando ia pegá-los, Clandira atirou para trás um punhado de cinza.
Formou-se uma neblina muito densa, que Ragarrão não pôde atravessar.
Voltou para casa, e desistiu da ideia de agarrá-los.

O príncipe d. Bias chegou, então ao seu reino, e casou-se com Clandira, que se desencantou, deixando de ser da raça dos gigantes, para vir a ser uma moça lindíssima.

HISTÓRIAS DA AVOZINHA -  Domínio Público
Figueiredo Pimentel

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O sapo sapeca.

O sapo sapeca caiu na caneca,
virou o café, em todo o pé,
croac croac,
croac croac,
pulava o coitado.
Derramou o açúcar,
pulou em cima da cuca,
saiu mais melado...
croac croac,
croac croac,
Fez tanto barulho,
o sapo azarado,
que a dona Bibi,
correu o coitado.
E deu vassouradas,
com força no chão
para o sapo assustar
sem nele tocar...
E tanto ela fez,
que o sapo infeliz,
pulou a janela,
quebrou o nariz...
croac croac,
croac croac,
O pobre amiguinho
aprendeu a lição
em casa dos outros
ninguém mexe não.

Jeanne Geyer

Para colorir:

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Pinguim serafim.


O pinguim Serafim
Garboso no gelo caminha
Com sua casaca de cetim
Porque no frio é quentinha.

Teme orcas e tubarões
São perigosos todos os dias
Pois devoram com seus dentões
Os pinguins e suas famílias.

Mas Serafim se cuida, é esperto
Dos predadores foge sem parar
Obedece a mamãe e dela fica perto
E brinca com os amiguinhos na neve e no mar.

Jeanne Geyer  


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Gatinho sapeca.

O gatinho sapeca
Pegou o novelo da vovó
Correu pela casa
Bagunçou sem dó

Menina bonita,
Pega o gatinho travesso
Ajuda a vovó aflita
Estou com pena confesso.


Jeanne Geyer


Para colorir:

sábado, 15 de outubro de 2016

15 de outubro dia do professor.


Hoje se comemora o dia do professor no Brasil. 
Para saber como tudo começou, clique AQUI
Deixo aqui minha homenagem a todos os professores dedicados, amorosos e idealistas. Que Deus ilumine seus caminhos com muitas bençãos de paz, amor e harmonia.
Que seu trabalho seja valorizado, que você seja respeitado pelo seus alunos e que os pais reconheçam a importância da tua influência na vida de seus filhos.
Que você receba salário digno e boas condições de trabalho.
Que você seja incentivado realmente e materialmente para poder se aperfeiçoar sempre.
Meu carinhoso abraço com muito respeito no teu dia!
Flores para você:

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

No Reino do Faz de Conta.

Tire os pés do chão
e viaje no sonho.
Ligue a imaginação
enquanto componho.

Viaje num trem bala,
sem sair da sala.
Tira a fantasia
de dentro da mala.

O sonho se instala
com facilidade.
O perfume que exala
é de felicidade.

Tire os pés do chão
e entre no mundo
do faz de conta.

Lá tem sapo trapalhão,
cão vagabundo
e a bicharada apronta.

AJ Cardiais.

Fonte: http://ajinfantilidade.blogspot.com.br/p/poemas.html

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O VIOLINO MÁGICO.

Dário era um bom mocinho, alegre e esperto, estimado por todos que o conheciam.
Um dia despedindo-se de sua família e de seus amigos, saiu de casa, para ganhar honradamente a vida. Ele era o mais velho dos cinco filhos que tinha o tio Pedro; e como a miséria lhes batia à porta, forçoso foi que o moço saísse, para não sobrecarregar o pai, em prejuízo dos irmãos menores, e também para ver se melhorava de sorte.
Ao despedir-se, o pai lhe dera por toda fortuna uma moeda de prata; e ele julgou-se rico, porque não conhecia o valor do dinheiro.
Caminhava alegremente pela estrada que conduzia à cidade, quando encontrou um velhinho, abrigado à sombra de uma árvore, gemendo e chorando.
Dotado de excelente coração, Dário tratou desveladamente do enfermo, e deu-lhe a sua única moeda de prata.
O velhinho, agradecido, disse:
– Já que foste tão caridoso, vou fazer-te um presente. Aqui tens este violino. Todas as vezes que o tocares, quem o ouvir não poderá resistir ao desejo de dançar.

Dário saiu satisfeito com o presente, e pouco adiante, encontrou-se com um judeu, homem avarento, que espoliava todo o mundo, emprestando dinheiro a altos juros, em troca de bons e valiosos penhores de prata, ouro e pedras preciosas, que nunca mais entregava aos respectivos donos.
Naquele mesmo instante o judeu acabava de perder um vintém, e procurava-o aflitamente, como se se tratasse de imensa fortuna.
O moço ofereceu-se para ajudá-lo; e, como tinha boa vista, enxergou a moeda de cobre caída no meio dos espinhos. Ia apanhá-la, mas o avarento não o consentiu, pensando que Dário fosse capaz de roubá-la.
– Ah! Judeu, disse Dário consigo mesmo: desconfias de mim! Deixa estar que me pagarás...
Esperou sentado; e, assim que viu o miserável dentro dos espinhos, começou a tocar o violino.
O judeu, escutando aqueles harmoniosos sons, começou a dançar; e quanto mais Dário tocava, tanto mais ele saltava, quase sem fôlego, rasgando a roupa, ferindo-se nos espinhos.
– Para!... Para!... Cessa esse violino do diabo! Para, que já não posso mais! Berrava o judeu, desesperado, sempre a dançar.
O rapaz, porém, continuava sempre a vibrá-lo.
– Pelo amor de Deus, para com essa música, que te darei uma bolsa de ouro!... Disse, enfim, o avarento.
– Ah! Isso é outro modo de falar! Respondeu o mocinho, emudecendo o mágico violino, depois que o judeu atirou a bolsa.
No dia seguinte, chegando à cidade, Dário foi preso. O judeu tinha ido queixar-se que havia sido roubado por ele.
O moço foi condenado à morte.
No momento em que subia para a forca, pediu que lhe permitissem tocar pela última vez o violino.
O avarento, que estava ao pé do cadafalso, gritou logo:
– Não o deixem tocar mais!... Não o deixem tocar!...
O juiz, porém, que não via razões para recusar, acedeu.
Dário começou a vibrar o violino, e imediatamente todos – juiz, carrasco, soldados, homens, mulheres, velhos e crianças – todos começaram a dançar.
– Basta! Gritava o juiz.
– Basta! Gritava o povo.
Dário cessou a música. O juiz convenceu-se que o rapaz não era criminoso, perdoou-o, e mandou enforcar o judeu.


Fim. 

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